No próprio dia da catástrofe, Antonio Tajani, o comissário europeu responsável pelos Transportes optou por uma fuga para a frente: "É necessário criar uma lista negra mundial de companhias aéreas", apressou-se a declarar. A manobra procurava sobretudo evitar as perguntas difíceis que poderiam envolver o próprio sistema de controlo da UE. De tudo o que se foi sabendo entretanto, a companhia iemenita teria estado na lista negra devido a este mesmo avião.
Essa lista, que agrupa agora mais de 200 companhias impedidas de cruzar o espaço aéreo europeu, foi entusiasticamente criada pela UE em 2005. Trata-se, sobretudo, de pequenas companhias africanas ou asiáticas, algumas das quais nunca tiveram um único aparelho na UE. As companhias maiores ainda não entraram na mira das certificações de segurança.
A saga pouco gloriosa da companhia Yemenia começou em 4 de Julho de 2007, no aeroporto de Marselha. Numa inspecção-surpresa, os examinadores da organização de segurança francesa descobriram "defeitos de nível 3" no aparelho do acidente. "Não se encontra casos daqueles todos os dias", constata um dos peritos. O avião teve de sair do território o mais depressa possível e os passageiros permaneceram em Marselha.
Alertada pelas autoridades francesas, a Comissão Europeia colocou a Yemenia Airways numa lista de observação. Uma proibição de voar em todo o espaço europeu não foi ainda considerada necessária. A partir desse dia, o aparelho 70-ADJ devia evitar a França, mas continuava a ter acesso a todos os outros aeroportos da Europa. "Tal facto viola claramente o espírito de um sistema de segurança europeu unido, em matéria de aviação", comenta Winfried Herman, membro do Bundestag, oriundo dos Verdes.
Enquanto a companhia prosseguia o seu tráfego aéreo na Europa, a Comissão Europeia dos Transportes verificava se a Yemenia tinha resolvido os problemas de manutenção constatados. A história terminou em Novembro de 2008. Tudo teria entrado na ordem, para a companhia árabe. Foi referenciado o facto de ter sido a construtora Airbus a examinar as áreas de actividade de Exploração e Manutenção. A UE não se preocupou manifestamente com o facto de a Airbus poder ter sido influenciada pelas suas relações comerciais com a Yemenia.
Há muito tempo que, em Bruxelas, paira a ideia de que a lista negra é orientada mais por interesses políticos e económicos e menos por questões de segurança.
O exemplo da Yemenia Airways revela igualmente a que ponto as autoridades de segurança da UE trabalham desencontradas. Enquanto todos se mostravam satisfeitos, na Comissão em que os responsáveis dos países-membros tomam decisões, a autoridade de vigilância europeia EASA chegava a outra conclusão. Diagnosticou defeitos graves e sistemáticos no seio da própria empresa de manutenção da Yemenia. Em 24 de Fevereiro de 2009, retirou à companhia iemenita o direito de frequentar os aeroportos europeus. "Informámos imediatamente a Comissão Europeia", declarou a EASA. Sem que isso parecesse ter interessado quem quer que fosse em Bruxelas.