O primeiro-ministro quer evitar, a todo o custo, a realização de eleições legislativas antecipadas e preferiu anunciar a organização de um referendo dentro de três meses para aprovar ou desaprovar o acordo da zona euro [de 27 de outubro]. A reação de toda a classe política foi muito violenta. Os deputados ficaram forçosamente assustados com os movimentos de 28 de outubro que impediram o tradicional desfile da festa nacional pela primeira vez em 71 anos. Obviamente que, com isto, o primeiro ministro ficou numa posição delicada.
A crise também estalou dentro do grupo parlamentar do PASOK [o partido socialista no poder]. Não restam dúvidas de que George Papandreu deixou de poder contar com o apoio dos seus 151 deputados, necessário para aprovar a realização do referendo. Isto significa que a sua sobrevivência se encontra sobre o fio da navalha depois do voto de confiança de sexta-feira. E, a priori, George Papandreu não terá autorização dos seus apoiantes para realizar o referendo, mesmo contando com a sua confiança.
Se nos distanciarmos um pouco dos acontecimentos e se olharmos, única e exclusivamente, de uma forma pessoal, para o primeiro-ministro grego, o referendo é ideal para a sua pessoa, pelo menos, atendendo aos factos. Não é um bom pretexto para abandonar heroicamente a vida política, como pretenderam alguns.
A divisão entre povo e Governo é indiscutível
De facto, temos de começar pelo princípio. Desde logo, nunca um governo democraticamente eleito teve um mandato tão catastrófico e tão contrário aos interesses do povo como o de George Papandreu.
É verdade que as condições não têm precedentes, mas a divisão entre povo e Governo é indiscutível. É por este motivo que o primeiro-ministro nem sequer quer pensar em recorrer às urnas. Não por se tratar de um "risco nacional", mas porque as consequências para o PASOK seriam incomensuráveis, o que poria em causa toda a classe política e poderia prejudicar as ambições internacionais de George Papandreu. O referendo foi, portanto, a melhor solução.
Papandreu quis chantagear o povo grego colocando-o perante um dilema: "Votam a favor do acordo europeu, ou será a falência da Grécia e teremos de sair do euro se ousarem dizer que não"! Talvez 80-85% dos gregos queiram mais Papandreu e mais governo socialista mas, de qualquer forma, não podemos falar de uma vontade popular de falência do país! Se, durante 3 meses, o governo atacar através da imprensa, o NÃO talvez ganhe. Pode haver uma abstenção em massa de todos os partidos. A participação cairá para 15-20% e o processo poderá meter água.
Opinião
Impasse para a Europa
“Tempestade na Grécia”, titula o Ta Nea. Porque, apesar da decisão de George Papandreu, o seu país “não é o único a tomar decisões na Europa. A profunda crise económica arrisca-se a afundar toda a zona euro. Está iminente a ameaça de uma verdadeira catástrofe”. Por seu lado, “Merkel e Sarkozy prometeram fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que seja aplicado o plano de resgate acordado na passada semana em Bruxelas. Mas pediram a opinião de Antonis Samaras, o líder conservador da oposição? E a de Spyros Karatzaferis, líder da extrema-direita? Antonis Samaras garantiu ao presidente da República fazer todo o possível para que o referendo não se realize. Pode fazê-lo, mas o que acontecerá a seguir? Se houver eleições e ele ganhar? Vai renegociar todos os planos de ajuda à Grécia?”, pergunta o diário.