Cimeira incómoda sobre armas e comércio

Publicado em 21 Setembro 2012 às 13:29

“Cimeira insignificante”, é o título do Handelsblatt após a cimeira UE-China de 20 de setembro em Bruxelas. A reunião dos representantes da primeira e da terceira maior economia deveria ser importante, mas não vai dar qualquer resultado significativo, nota o diário de Düsseldorf. Depois de 15 anos a discutir as mesmas questões — a primeira cimeira teve lugar em 1998 — a China mostra-se cada vez mais desagradada com “a total incapacidade de atuação da UE. Van Rompuy pura e simplesmente não tem nada para dizer”.

Um dos pontos polémicos é o embargo às armas pela UE, imposta após o massacre na praça de Tiananmen em 1989. O EUobserver refere que, nos seus comentários iniciais aos presidentes europeus, Herman Van Rompuy e Durão Barroso, Wen Jiabao disse terminantemente à UE para não falar mais nisso:

Tenho de ser franco convosco ao dizer isto – relativamente à questão de acabar com o embargo às armas imposto à China e reconhecer o estatuto de economia de mercado à nossa República. Há dez anos que andamos a trabalhar [nesta questão] mas não tem sido fácil encontrar uma solução. Lamento profundamente que isto seja assim. Espero e acredito que a UE vai agarrar a oportunidade e tomar a iniciativa certa numa fase inicial para resolver esta questão.

O site noticioso de Bruxelas, no entanto, nota que, na prática, a proibição não foi respeitada:

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Os países da UE outorgaram uma licença de exportação na ordem dos 218 milhões de euros em equipamento de defesa à China em 2010. De acordo com documentos europeus, a parte de leão veio de França e do Reino Unido e destinou-se a peças para veículos terrestres e aviões, equipamento eletrónico, mísseis e mais de 13 milhões de euros em "agentes tóxicos biológicos e químicos, 'agentes antimotim' e materiais radioativos".

OChina Daily refere que o primeiro-ministro Wen Jiabao insiste num tratado de investimento da UE que garanta “um ambiente favorável a investimentos políticos e legais para as empresas”. Com a Europa a atravessar uma crise económica, o jornal controlado pelo Estado refere que

a UE é o principal parceiro comercial da China, ao passo que a China é o segundo maior parceiro comercial do bloco e a maior fonte de importações. O comércio atingiu os €435,5 milhões (567,2 milhões de dólares) em 2011 e a Europa registou igualmente uma subida anual do investimento chinês o ano passado na ordem dos 94,5%, para €3,42 milhões (4,46 milhões de dólares). Contudo, os laços comerciais também se ressentem com a crise da dívida europeia, com as exportações chinesas para a Europa a cair 12,7% em agosto do ano transato, pelo terceiro mês consecutivo.

O Handelsblatt salienta, no entanto, que Pequim está a tentar estabelecer outros contactos na Europa, nomeadamente na Alemanha, sendo Berlim um dos seus principais investidores pronto a partilhar segredos tecnológicos:

Nos círculos diplomáticos de Pequim, sabe-se que a liderança chinesa apreciaria o facto de os alemães ficarem responsáveis pela UE. Daí que a desconfiança dos restantes 26 Estados-membros seja crescente: será que a Alemanha está a discutir vantagens na sua relação com a China, negligenciando os direitos humanos e, em contrapartida, investindo ainda mais?

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