Em Bruxelas, os diplomatas e os funcionários europeus ficaram mais descansados com o resultado das eleições legislativas do dia 12 de setembro na Holanda. “É formidável ver até que ponto a Holanda se excedeu. O bom senso está de volta, trazido pela razão”, concluiu um deles. “É também o momento ideal para a Holanda voltar ao normal”, declarou um outro alto funcionário.
Neste momento, há uma certeza em Bruxelas: o ódio à UE não irá propagar-se a partir da Holanda – país fundador da UE e membro com notação AAA – em relação ao resto da Europa. A coligação, provavelmente composta pelo VVD [Partido Popular da Liberdade e da Democracia, liberal] e pelo PvdA [Partido do Trabalho, social-democrata] não irá virar as costas à UE. Desde que Diederik Samsom assumiu a liderança, o PvdA retomou inclusivamente o seu tradicional rumo em direção à Europa.
Como se fossem abutres
Nos próximos meses, a nova coligação irá ter a grande oportunidade de afirmar a sua posição na UE. Em outubro ou em novembro, será preciso retomar fatalmente a questão de saber se vai ser preciso ajudar novamente a Grécia ou a Espanha com os fundos europeus. Nestes últimos dois anos, em parte por causa da pressão do PVV [Partido Populista de Geert Wilders], Mark Rutte e Jan Kees De Jager, ministro das Finanças oriundo do CDA [Partido Cristão-Democrata], comportaram-se como se fossem abutres quanto à concessão de empréstimos de emergência aos países da zona euro em dificuldades.
Uma coligação com o PvdA irá adotar uma estratégia diferente em Bruxelas. É provável que a posição holandesa de aceitação crítica não se vá alterar no momento da votação, tanto mais que o atual Governo, constituído pelo VVD e pelo CDA, já contava com o PvdA para dar o seu apoio às ajudas de emergência. Podemos assim contar com uma viragem ainda maior relativamente aos projetos de Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, que tenciona dotar a UE de uma arquitetura inteiramente nova. Antes das eleições, Mark Rutte dizia em tom de brincadeira que a necessidade de perspetivas europeias era tão baixa que se fazia acompanhar pela transferência de um frágil poder para Bruxelas. Com Diederik Samsom a seu lado, Mark Rutte não poderá repetir mais esta frase assassina.
Herman Van Rompuy e Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, consideram inevitável a existência de uma integração mais forte se os Estados-membros da UE pretenderem conservar a prosperidade e o bem-estar. Na prática, isto significa regras europeias ainda mais rigorosas em matéria de disciplina orçamental, acordos ainda mais exigentes sobre a aplicação da política económica e social, uma harmonização mais harmoniosa da fiscalidade e uma influência maior do Parlamento Europeu. O PvdA está aberto a esta evolução e o primeiro-ministro Mark Rutte, quando tiver de tomar decisões – no final deste ano –, será obrigado a dizer “Sim, desde que” em vez de “Não, nunca mais”.
Alternativa realista
Será também de esperar uma tomada de posição mais flexível nas negociações sobre o novo quadro financeiro plurianual da UE. A expressão “zero é muito”, de Mark Rutte e Jan Kees De Jager (congelamento orçamental), será substituída por um cenário que preveja uma modesta subida do orçamento da UE. De qualquer forma, é uma alternativa mais realista, a menos que a Holanda esteja verdadeiramente disposta a inviabilizar o orçamento com o seu veto.
Tudo indica que Mark Rutte não voltará a importunar a Europa – segundo a opinião dos diplomatas da UE. Em vez de procurar alianças com os eurocéticos de Londres e de Helsínquia, um Governo formado pelo VVD e pelo PvdA irá aproximar-se, como anteriormente, dos que, em Berlim, praticam uma crítica construtiva. Depois das eleições, o primeiro-ministro holandês vai passar a ser um pouco mais alemão na Europa.
Opinião
Os alemães, para ouvir e seguir
Os “debates públicos intensivos” na Alemanha, que se seguiram a decisão do Tribunal Constitucional de Karlsruhe, são um exemplo a seguir para os holandeses, cuja atitude relativamente a eventuais atentados à democracia é “mais pacífica”, estima Ton Nijhuis, em De Volkskrant. Para o diretor do Instituto alemão na Holanda,
a Holanda deveria levar a sério o descontentamento e as preocupações da população alemã e reduzir o mais possível o seu sentimento de isolamento, por exemplo, levando a sério o desejo de Angela Merkel de chegar a uma união política. […] Devemos esclarecer o que pretendemos da Europa. Se tomássemos iniciativas em vez de ficarmos na bancada a queixar-nos, aumentaríamos as hipóteses de termos uma verdadeira influência [na Europa]. Se partilhássemos as preocupações alemãs e formulássemos respostas, poderíamos tentar evitar que a Alemanha se desmotive pouco a pouco e ao mesmo tempo poderíamos animar e dar uma direção ao debate europeu na Holanda.