É preciso sangue fresco!

O envelhecimento da população europeia, confirmado recentemente pelo Eurostat, não quer apenas dizer que será necessário financiar mais reformas, mas também que há menos jovens motivados e competentes para pôr a economia em funcionamento. Daí ser necessário criar um ambiente atraente para as forças vivas do continente, considera a economista italiana Irene Tinagli.

Publicado em 6 Agosto 2010 às 13:57

Qual o efeito do abrandamento demográfico no futuro da Europa? Inúmeros centros de investigação interrogam-se sobre isso, há muito tempo. A taxa de natalidade continua a baixar em muitos países. Com a crise, os fluxos migratórios também diminuíram e não parecem ser já suficientes para inverter a tendência. O principal receio, sobretudo para os políticos, é que uma entidade como a Europa, que conta menos de 500 milhões de habitantes, desapareça em termos de influência global, perante gigantes como a China ou a Índia, cujas populações excedem o milhar de milhão cada uma.

A população tem uma importância evidente: um presidente que represente mil milhões cidadãos não tem o mesmo peso que outro que represente apenas um pequeno número, nomeadamente porque populações numerosas alimentam o mercado e o consumo, atraem investimentos, etc. Também é evidente, porém, que o número não pode, por si só, construir uma potência, seja ela política ou económica. A estrutura demográfica de um país – tal como a sua estrutura económica e social – não é apenas determinada pelo número. Importa também o fator qualitativo. Deste ponto de vista, não é a baixa demográfica que é preocupante em si, mas o envelhecimento progressivo da população. O grande potencial da Índia não advém apenas dos 1100 milhões de pessoas, mas do facto de 50% de essa população ter menos de 25 anos e de 65% não ter 35 anos. Na China, a média de idades é de 34 anos. Para fazer uma comparação, em Itália é de 43 anos, na Alemanha, de 44 anos, e em França, um dos países “mais jovens” da Europa, de 40 anos.

Jovens são motor da economia

O envelhecimento da população europeia não tem apenas, como é frequentemente recordado e com razão, pesadas consequências no sistema de reformas e nas despesas sociais. Tem também efeitos significativos para a produtividade, a capacidade de inovação e a produção de um país. Ora, não se reflete suficientemente nestas questões. Interrogamo-nos sobre as implicações do facto de ter tantas pessoas idosas, mas muito menos sobre o significado de haver poucos jovens. Ter uma população mais jovem, é sobretudo ter uma força de trabalho ativa, com uma formação e competências frescas, recentes. Um jovem de 25 anos, com um diploma acabado de tirar, saberá utilizar todas as novas tecnologias, enquanto uma pessoa de 45 ou 50 anos, no melhor dos casos, terá obtido o seu há mais de 20 anos e provavelmente ainda datilografou o seu relatório ou a sua tese numa máquina de escrever.

Um jovem com menos de 30 anos trabalha geralmente mais horas, por um salário que ainda não foi inflacionado pela antiguidade e anos de carreira. Por outras palavras, produz mais e a um custo inferior, tem maior desejo de afirmação, de aprender e, em geral, agiliza o sistema, ajuda a produzir e inovar a ritmos mais sustentados e a custos mais contidos. Isto é tanto mais verdadeiro nas economias mais dinâmicas, onde “os investimentos” em termos de instrução e de trabalho são mais rentáveis.

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Numa Europa onde a classe média cresceu imenso e em que as famílias giram cada vez mais em redor de um filho único, a nova geração tende a ser mais protegida que a dos jovens chineses ou indianos, e menos motivada a entrar na concorrência. Para além de que os jovens europeus são confrontados com economias de crescimento muito mais lento, em que as perspetivas de salto e de crescimento, tanto económicos como sociais, são, comparativamente, muito modestos. É nestes aspetos que a Europa deve refletir.

Tornar a Europa favorável aos mais novos

A presença, a energia e as possibilidades de crescimento das novas gerações é que fazem realmente a diferença para o futuro e a influência global de um país. Os jovens contribuem de forma determinante não só para as inovações tecnológicas, mas também para um maior dinamismo cultural e para as grandes tendências globais. Aliás, as novas fronteiras da arte, da ciência e também da cultura de massas partem mais frequentemente de jovens artistas rebeldes, de jovens diplomados e, em geral, de novas gerações desejosas de se afirmar, do que cinquentões ou sexagenários com grande experiência.

A questão demográfica na Europa é um problema que deve ser examinado sem demora. Mas, antes de se interrogar sobre como aumentar o número de cidadãos europeus, na esperança um pouco ingénua de que, aumentando o peso demográfico, se possa manter o peso político global, a Europa devia concentrar-se no ordenamento de um contexto económico e social mais fluido, dinâmico e atrativo para os jovens do mundo inteiro, com menos burocracia, menos património e sobretudo mais estímulos para as atividades produtivas, a inovação e a criação de empresas. Em suma, tentar fazer do Velho Continente um país para os jovens, gerador de uma influência social e cultural que fundamental para uma verdadeira influência global.

Em números

Grandes disparidades entre os países

Com base nos números publicados no fim de Julho pelo Eurostat, Le Monde faz um balanço comparado da situação na UE. A população total acaba de ultrapassar mais um marco, com 501 milhões de habitantes em 2010, ou seja, 1,4 milhões mais do que no ano passado. Mas alguns países (Lituânia, Letónia, Bulgária) perderam mais de 6‰ da sua população enquanto outros (Reino Unido, Suécia e Bélgica) ganharam mais de 7‰. As disparidades são, sobretudo, fruto da natalidade, alta no norte e no ocidente da Europa (Irlanda, Reino Unido, França) e baixa no sul e no leste (Alemanha, Bulgária, Hungria). A taxa de fecundidade média da UE foi, apenas de 1,6 de filhos por cada mulher, em 2008.

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