Conselho Europeu

Grande confusão em torno do orçamento da UE

Os dirigentes dos Vinte e Sete reúnem-se em Bruxelas, para um Conselho Europeu extraordinário centrado no orçamento da UE para os próximos anos, já marcado por ameaças de veto de uns e outros. A imprensa europeia debruça-se sobre as negociações paralelas e os prováveis vencedores e perdedores.

Publicado em 22 Novembro 2012 às 16:30

A negociação parte do projeto proposto pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, que prevê uma redução de €75 mil milhões dos 1048 mil milhões previstos. Os países “grandes” contribuintes, como o Reino Unido, gostariam de ver a sua contribuição diminuir, enquanto os "pequenos" receiam que lhes reduzam o precioso Fundo de Coesão.

Segundo o editor do Daily Telegraph,

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Cameron (e, esperamos, os dirigentes de outros países cujos contribuintes estão igualmente fartos da despudorada prodigalidade da instituição), desta vez, vai disposto a marcar uma posição. Uma vez que a UE está a negociar um orçamento para os próximos sete anos, é a melhor oportunidade de pôr um travão na incontinência fiscal da Comissão, uma ambição que deve ser partilhada pelos que se preocupam com que as ameaças de veto possam prejudicar a posição britânica na UE a longo prazo. A recusa arrogante de Bruxelas em aceitar qualquer emagrecimento na sua burocracia balofa está a fomentar o próprio antieuropeísmo que os dirigentes da Europa anseiam por evitar.

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Por seu lado, Portugal vai para a cimeira de hoje sabendo que se arrisca a receber menos 5,25 mil milhões em fundos estruturais, bem como apoios ao desenvolvimento rural e aos agricultores, entre 2014 e 2020. Escreve oPúblico, na sua edição:

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A aprovação de orçamentos foi sempre uma tarefa difícil, mas desta vez os interesses nacionais, as feridas abertas pelas divergências em torno da crise do euro e até as diferentes perceções sobre o futuro da UE tornam um acordo numa missão quase impossível. Tivesse a Comissão Europeia a força política de outrora e talvez fosse aceitável para os Estados-membros um crescimento do pacote financeiro na ordem dos 5% [...]. Mas, face à atual correlação de forças - a proposta do [presidente da Comissão José Manuel] Durão Barroso foi imediatamente reduzida pelo presidente do Conselho [Europeu, Herman Van Rompuy] e, mesmo assim, continua a merecer as reservas de vários países, que a ameaçam vetar [...] - a cacofonia subiu de tom e a Europa aproxima-se ainda mais do caos institucional.

El País expressa preocupações semelhantes do lado espanhol, pois os cortes chegam no pior momento, para Madrid:

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Caso a proposta [de Van Rompuy] passe, a Espanha pode perder €20 mil milhões, num momento em que está em plena recessão e se vai tornar – pela primeira vez desde a adesão à UE – um contribuinte líquido para os fundos comunitários.

Em Budapeste, o jornal conservador Magyar Nemzet indigna-se:

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Fazer cortes em detrimento dos países pobres e beneficiando os ricos é absolutamente escandaloso e inaceitável. É uma bofetada que, obviamente, aguarda o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. Por razões misteriosas, a Hungria é o Estado-membro a que Bruxelas quer tirar mais dinheiro.

"Não te esvazies, Europa", titula o Gazeta Wyborcza, dizendo que a proposta de redução do orçamento da UE é um bom negócio para a Polónia, e sublinhando que, se os Vinte e Sete não se excederem, pode ser encarada como uma vitória:

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A proposta de Van Rompuy é muito "alemã". Os especialistas de Berlim consideram que podem ser acrescentados uns dois ou três mil milhões de euros à França, para os seus agricultores, sendo outros tantos retirados à Polónia. E o caso fica assim encerrado. [...] O problema é que os cálculos razoáveis acabam ofuscados por sentimentos eurocéticos que ganham força numa Europa assolada pela crise.

Le Monde debruça-se sobre os interesses nacionais esgrimidos pelas capitais europeias para se defenderem das várias opções de orçamento discutidas em Bruxelas. Trata-se de um "falso egoísmo dos europeus", diz o diário de Paris, pois por trás do "Devolvam-me o meu dinheiro!", que faz lembrar a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, esconde-se uma comédia bem urdida:

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Este credo egoísta não corresponde à realidade do euro [...]. Os europeus não querem estar unidos, mas estão-no de facto. São como um casal de velhos, impossibilitado de se divorciar, forçado a partilhar a mesma casa, onde cada um conta os trocos para gastos, num gesto de desafio.

Na mesma sintonia, o Frankfurter Allgemeine Zeitung considera que a situação está longe de ser dramática: "O orçamento da UE está na sua reta final", diz, apesar de ainda subsistirem divergências:

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Há sinais positivos vindos de todos os quadrantes. Mesmo os britânicos, que ameaçaram usar o seu poder de veto, de repente são favoráveis ao compromisso recentemente apresentado por Herman Van Rompuy. [...] O receio de um fracasso, no cenário de crise do euro, poder prejudicar gravemente a UE é manifestamente muito grande. [...] A estratégia da Comissão era clara: não quis atacar os grandes contribuintes, como a Alemanha, com exigências exorbitantes. [...] Assim, Van Rompuy prevê compromissos de €973 mil milhões, o que está próximo dos €960 mil milhões exigidos pela Alemanha.

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