Imigrantes esperam, na expetativa de serem chamados a preencher os papéis para os pedidos de asilo, nas proximidades da esquadra da polícia de Atenas, a 5 de dezembro de 2008.

Guardas armados da UE travam entrada de imigrantes

O número de imigrantes que tentam atravessar a fronteira porosa entre a Grécia e a Turquia quadruplicou no último ano. A Grécia não é capaz de fazer face à situação e, por isso, a Frontex, a agência europeia de gestão das fronteiras irá deslocar guardas armados para a região.

Publicado em 26 Outubro 2010 às 14:59
Imigrantes esperam, na expetativa de serem chamados a preencher os papéis para os pedidos de asilo, nas proximidades da esquadra da polícia de Atenas, a 5 de dezembro de 2008.

Uma nova força de guardas europeus armados vai ser enviada para a Grécia, para patrulhar as fronteiras do país com a Turquia, numa tentativa de travar a excessiva e crescente vaga de imigração ilegal para a Europa. É esta a primeira vez que Bruxelas posiciona unidades armadas multinacionais numa fronteira externa terrestre da UE. Essas forças serão compostas por Equipas de Intervenção Rápida na Fronteira e forças de guardas de fronteira de outros países europeus.

A Comissão Europeia anunciou que as equipas deverão chegar à Grécia dentro de dias, apesar de o número exato e a constituição dessas equipas ainda estar por decidir. Um funcionário da Comissão disse: "Esta é uma nova frente. As equipas estarão armadas mas só poderão usar as armas em autodefesa”.

Com dificuldade em fazer face ao problema das centenas de migrantes que todos os dias entram na Grécia por um zona inóspita e não monitorizada da fronteira do país com a Turquia, perto da cidade de Erdine, Atenas pediu ajuda a Bruxelas no passado fim de semana. "Os fluxos de pessoas que atravessam ilegalmente a fronteira atingiram proporções alarmantes", disse Cecilia Malmström, comissária para os Assuntos Internos da UE. "A Grécia não é manifestamente capaz de resolver a situação sozinha."

Segundo Bruxelas, cerca de oito em cada dez imigrantes que entraram este ano na Europa chegaram à Grécia vindos da Turquia. Alguns são imigrantes económicos ilegais, à mercê de gangues de traficantes de seres humanos. Muitos são iraquianos e afegãos em busca de asilo, que as autoridades gregas tratam de uma forma que as Nações Unidas e a UE consideram difícil de defender. "É uma situação terrível", disse o mesmo funcionário. "Neste momento, os gregos não conseguem controlá-la. É um pequeno país sujeito a uma pressão enorme."

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Nove em cada dez imigrantes ilegais foram detidos na Grécia

Este ano, o número de imigrantes que entraram na Grécia quase quadruplicou, atingindo os cerca de 34 mil, em comparação com os nove mil do ano passado. Para alguns afegãos como Ahmad Fahim, de 15 anos, a rota de entrada na Europa através da Grécia é uma das mais comuns. O jovem, vindo da cidade de Jalalabad, no leste do Afeganistão, foi de autocarro até à fronteira entre o Afeganistão e o Irão e, depois, atravessou o Irão a pé, guiado por traficantes, que o levaram até à Turquia. Daí, seguiram até à costa em frente à ilha grega de Mytilene. "Demorou quatro meses e paguei 1500 dólares [1076 euros] aos passadores", contou Ahmad. "Os pés doíam muito. Mas, durante todo o tempo, pensava na Inglaterra, onde vivem os meus parentes. As condições na Grécia são terríveis. Na esquadra da polícia, éramos 20 dentro de uma cela suja. E, antes de nos deixaram sair, bateram no Fahimullah, porque ele disse que não se sentia bem."

Matthew, de 22 anos, originário do Congo, disse: "O meu pai ensinou-me a rezar. Quando fiz a viagem até aqui, rezei muito e agradeci muitas vezes ao meu pai. A guarda costeira grega destruiu o nosso barco, quando tentávamos atravessar e, deliberadamente, empurraram-nos de volta para a Turquia. Houve uma tempestade e nenhum de nós sabia nadar. Quase morremos”.

Segundo a ONU, nove em cada dez detenções de imigrantes ilegais na Europa ocorreram na Grécia. Manfred Nowak, relator da ONU para os Direitos Humanos, visitou recentemente Atenas e encontrou os candidatos a asilo detidos em condições "desumanas e degradantes". "Algumas das instalações têm tanta gente, são tão escuras e estão tão sujas que era difícil para nós estar ali com os detidos. Tivemos de sair, porque não havia ar suficiente para respirar", disse.

Imigrantes entram ao ritmo de várias centenas por dia

Ao longo do último ano, Bruxelas e os Governos da UE procuram travar a imigração através do Mediterrâneo e fechar as rotas de tráfico para Espanha, Itália e Malta, recorrendo a patrulhas marítimas. Também tomaram a decisão polémica de fazer acordos com o coronel Muammar Khadafi, da Líbia, para levar os migrantes de volta. A Líbia foi uma das rotas principais para pessoas vindas de África e do Médio Oriente.

O encerramento dessas rotas deixou exposta a Grécia, onde chegavam milhares de pessoas através da Turquia, vindas do Paquistão, Afeganistão, Iraque, Irão e África. No fim de semana, o ministro grego da Polícia, Christos Papoutsis, disse: "Diariamente, há chegadas massivas à fronteira terrestre da Grécia com a Turquia de nacionais de países terceiros, que tentam entrar ilegalmente no país, com o objetivo de chegar a outros países da UE”.

Vinte e cinco candidatos a asilo iranianos estarão em greve da fome na Grécia, alguns deles com as bocas cosidas, em protesto contra o tratamento que lhes é dado e contra a recusa da Grécia de considerar os seus pedidos de asilo.

Uma faixa de cerca de onze quilómetros da fronteira externa da UE, perto da cidade grega de Orestiada, estará completamente aberta e sem guardas. Os imigrantes entram a um ritmo de várias centenas por dia, apesar de o terreno ser difícil. A crise é agravada pelo facto de outros países da UE mandarem imigrantes ilegais detidos de volta para a Grécia, ao abrigo de regras que estipulam que estes podem ser re-enviados para o país de entrada na UE.

Visto de Atenas

O chapéu-de-chuva Frontex

“Para enfrentar melhor as vagas de imigração clandestinas no nosso país, o Frontex, a agência europeia das fronteiras, está cá”, notícia To Ethnos. É em Evros, no norte do país, na fronteira greco-turca, que o Frontex e a polícia grega avaliarão a amplitude do fenómeno migratório. “Nos últimos meses, os números da imigração baixaram”, continua o jornal de esquerda, “90% dos imigrantes clandestinos para a Europa foram parados na Grécia”. Para To Ethnos, trata-se “de uma vitória para o atual Governo porque, finalmente, a UE reconhece que as fronteiras gregas são as fronteiras da Europa”. “O ministro da Proteção Civil afirmou que a Turquia é um país de trânsito para os imigrantes e que o verdadeiro problema está na Grécia”, continua o diário. Segundo o Frontex, três quartos dos 40 mil imigrantes que entraram na Grécia, este ano, passaram pela Turquia.

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