Senão tem um destes não vale a pena vir. Iates no porto de Tivat, Montenegro.

Montenegro para ricos

Desejoso de aderir à União Europeia, o Montenegro está a limpar a sua imagem de país corrupto e a usar todos os argumentos para atrair capital estrangeiro.

Publicado em 26 Agosto 2010 às 15:28
Alex FotoMoto/Flickr/CC  | Senão tem um destes não vale a pena vir. Iates no porto de Tivat, Montenegro.

“É melhor que Saint-Tropez”, exclamou Milo Djukanovic, primeiro ministro de Montenegro, ao olhar para os iates ancorados nesta baía rodeada de montanhas na costa leste do mar Adriático.

Dificilmente. Mas se Milo Djukanovic juntamente com um grupo de empresários estrangeiros seus apoiantes conseguirem, o porto de Tivat, neste momento apenas 20% construído, poderá vir a ser uma nova zona de recreio para os super-ricos e o ponto de atração da audácia do pequeno Montenegro em limpar a sua imagem de corrupção e conseguir entrar para a União Europeia.

Integrado no plano para atrair investidores de todo o mundo, Milo Djukanovic, igualmente presidente da agência de promoção de investimentos do Montenegro, afirmou a semana passada que qualquer pessoa que queira investir 500 mil euros, no mínimo, passa a ser cidadã de Montenegro.

Em 2009, o primeiro-ministro convidou Thaksin Shinawatra, o antigo primeiro-ministro deposto da Tailândia que enfrenta a possibilidade de uma pena de prisão por alegada corrupção, para se estabelecer no Montenegro.

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“Não se trata de um lugar para projetos de investimento medíocres”, afirmou Milo Djukanovic, em montenegrino, perante uma multidão de empresários e líderes políticos, de copo de champanhe na mão, ao lado das mulheres ou namoradas, na cerimónia que marcou, sábado à noite, o fim da primeira e principal fase de construção deste projeto portuário. “O Montenegro”, disse, “irá ser um dos destinos turísticos mais elitistas do mundo”.

Com cerca de 670 mil habitantes, este país, ligeiramente mais pequeno do que o Estado de Connecticut, conseguiu a independência apenas em 2006. Rodeado por infinitas montanhas que descem até ao Adriático, o Montenegro é, nas palavras de Lord Byron, seguramente a “fusão mais perfeita de terra e mar”.

“Este país está à venda”, afirmou Vanja Calovic, líder da Mans, um organismo anticorrupção filiado na Transparency International. “O Montenegro está a vender tudo o que tem e ainda não percebi o que é que o país lucra com tudo isto.”

Não há dúvidas de que o executivo de Djukanovic gosta de investimentos. A taxa de imposto de 9% sobre o rendimento de pessoas singulares e coletivas é uma das mais baixas da Europa. E, na tentativa de preparar o terreno para o projeto Tivat, o parlamento reduziu o IVA nas questões relacionadas com o porto, de 17 para 7% — uma estratégia que suscitou uma repreensão da Comissão Europeia por prática anticoncorrencial.

A KAP, a maior fábrica nacional de alumínio, responsável pela produção de cerca de metade das exportações do país, foi vendida ao investidor russo milionário, Oleg Deripaska — investidor minoritário no Porto de Montenegro —, num negócio realizado em 2005 e que continua a ser controverso.

Os apoiantes do Governo afirmam que, num mundo competitivo de investimentos, países pequenos como o Montenegro têm de dar tudo por tudo para atrair capital estrangeiro. Mas há muitos que dizem que a desorientação negocial de Milo Djukanovic é o reflexo de uma combinação indecorosa entre negócios e política que põe em destaque o potencial de corrupção e negócios duvidosos.

O vencimento de Milo Djukanovic, segundo dados oficiais, é de 1 256 euros por mês, mas os críticos há muito que afirmam que o primeiro ministro e outros deputados com assento parlamentar arredondam os seus baixos salários através de uma rede de juros de participações em empresas. Em 2006, quando suspendeu temporariamente o seu cargo de primeiro ministro, mas sem abandonar o parlamento, Milo Djukanovic inaugurou uma empresa de investimento imobiliário, embora já tenha deixado esses seus negócios.

Com a presença imponente do seu metro e noventa, o interesse de Milo Djukanovic por este local remonta a 1991, muito antes de o país ser independente. Tem-se mantido quase sempre em posições de topo desde essa época e já vai no sexto mandato à frente do Governo.

De acordo com o Projeto de Análise da Corrupção e do Crime Organizado, Milo Djukanovic admitiu o seu envolvimento numa companhia de comércio de tabaco na década de 1990, durante a guerra que se seguiu ao desmembramento da Jugoslávia, mas negou persistentemente qualquer acusação de ilegalidade.

No relatório de 2009 sobre o estatuto do Montenegro de candidato à UE, a Comissão Europeia, com poderes executivos, afirmou: “A corrupção prevalece em muitas áreas e continua a ser um problema sério.”

Igor Luksic, vice-primeiro ministro, disse que o Governo fez progressos na sua luta contra a corrupção e que adotou recentemente um plano de ação que pretende contemplar as preocupações da UE.

Apesar do tapete vermelho com que foram recebidos os estrangeiros mais ricos, o Montenegro não é um sítio fácil para se fazer dinheiro. Para além dos riscos associados à maior parte dos mercados emergentes na Europa, o país consegue deixar os investidores em paz por causa do seu tamanho e do grupo restrito de iniciados.

Albânia-Grécia

Sinais nacionalistas albaneses inquietam Atenas

Há dias, um grego foi assassinado na cidade albanesa de Heimaras. “Alguns sítios da Internet erigiram o assassino à categoria de herói”, escreve Giorgos Delastik no diário grego To Ethnos, que denuncia um “pesado clima anti-grego”, alimentado pelos media albaneses e as “posições por vezes inflamadas” do primeiro-ministro albanês, Sali Berisha. Segundo o jornalista, o sentimento nacionalista albanês foi reforçado pela recente Idecisão do Tribunal Internacional de Justiça de Haia de reconhecer a legalidade da independência do Kosovo, apesar do recurso às armas. Preocupa-se, igualmente, pelo facto do ódio racista ser baseado no interesse económico de cobiça pelos bens dos gregos. Por fim, lembra que o clima de violência também é favorecido pelas inúmeras histórias de albaneses maltratados na Grécia.

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