Conselho Europeu

“Muita conversa, pouco dinheiro”

Para lutar contra o desemprego juvenil, os Vinte e Sete avançaram seis mil milhões de euros, a gastar até ao final de 2015 nos 13 países mais afetados. A que acrescem dois mil milhões provenientes de fundos não utilizados. Um primeiro passo que, no entanto, não vai ser suficiente para travar uma epidemia que afeta cerca de seis milhões de jovens europeus, segundo a imprensa do Velho Continente.

Publicado em 28 Junho 2013 às 15:34

Outro tema em debate na cimeira, foi a aprovação do orçamento da UE para 2014-2020, suspenso até ao último minuto pela ameaça de Londres de não o deixar passar se o abatimento na sua contribuição fosse retirado.

O jornal Les Echos saúda os “seis mil milhões disponibilizados pela Europa para o Emprego Jovem”. O diário económico recorda as condições que possibilitaram que os Vinte e Sete resolvessem “serenamente aquilo que apontaram como prioridades”:

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Uma determinação de apaziguamento do lado francês, após uma semana de tensão com a Comissão Europeia; um acordo de última hora sobre o orçamento da UE, após meses de duras negociações; um acordo in extremis entre os ministros das Finanças sobre as regras para bancos falidos, depois de mais uma ronda de conversações.

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No diário lisboeta Público, José Manuel Fernandes critica as sucessivas cimeiras europeias que, desde 2010, deveriam ter servido para “salvar o euro e evitar o apocalipse”:

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Mais um mês de junho, mais uma cimeira europeia. E mais uma mão-cheia de quase nada. O programa de combate ao desemprego juvenil não será apenas ridiculamente limitado nos fundos que disponibilizará, será sobretudo mais do mesmo, isto é, mais da mesma receita testada com muito poucos resultados no quadro da falhada “Estratégia de Lisboa”. Mas parece ser o máximo de que a Europa é hoje capaz.

“Um ano e 1,7 milhões de desempregados mais tarde, a Europa propõe a mesma receita”, lastima El País, para quem a decisão de gastar seis mil milhões na criação de empregos em 2014 e 2015, com mais dois mil milhões até 2020, é “parcial e relativamente modesta”, além de baseada em “pequenos estímulos”:

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Seis anos após a eclosão da crise, 27 milhões de europeus estão desempregados: um contingente equivalente a ter de braços cruzados, incapaz para o trabalho, o conjunto da população da Bélgica, Áustria, Dinamarca e Irlanda. Destes, cerca de meio milhão reside em Espanha, um verdadeiro celeiro de desempregados do continente. E o crescimento prima pela sua ausência.

“Empregos para jovens da UE: muita conversa, pouco dinheiro”, escreve-se no Gazeta Wyborcza. Os seis mil milhões de euros a serem gastos entre 2014-2020, não serão suficientes, segundo diz ao diário o polaco André Sapir, do Centro Bruegel:

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Projetos concebidos apenas para os jovens não vão fazer uma “grande diferença”, já que o problema do desemprego afeta todas as faixas etárias, e está associado com o crescimento económico ou a sua notável ausência. Acho que estas “garantias para jovens” são apenas uns trocados, pois sem um regresso do crescimento económico, não vamos criar novos empregos.

Os milhares de milhões para empregos serão tirados do orçamento da UE para 2014-2020, como concordaram os dirigentes europeus. No entanto, observa o diário de Varsóvia, a votação final no Parlamento Europeu só terá lugar daqui a várias semanas:

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O Parlamento Europeu irá votar a resolução não vinculativa a favor do texto orçamental, na próxima terça ou quarta-feira. No entanto, só depois das férias de [verão] é que os deputados vão aprovar formalmente os atos jurídicos relativos ao orçamento dos próximos sete anos (2014-2020), que não estarão prontos até à próxima semana. [...] Se os países da UE mantiverem a sua promessa de aumentar ligeiramente os fundos para este ano, o mais provável é que o resultado da votação sobre o orçamento dos próximos sete anos seja positivo.

Um encontro de “dirigentes satisfeitos pela simples confirmação de acordos feitos anteriormente”, temporariamente em risco de um mau resultado, quando o primeiro-ministro britânico, David Cameron, exigiu garantias de que não haveria mudanças no controverso abatimento do contributo do Reino Unido, lê-se no European Voice. Como lembra o site:

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Nas cimeiras de dezembro e fevereiro, o Reino Unido resistiu aos apelos dos franceses para o desconto ser ignorado ou reduzido, mas a França tem continuado a pressionar no sentido de uma modificação que, de acordo com cálculos britânicos, poderia obrigar o Governo do Reino Unido a pagar um adicional de €351 milhões para o orçamento de sete anos da União Europeia.

Bem vistas as coisas, escreve Adriana Cerretelli no diário económico italiano Il Sole 24 Ore, as medidas acordadas em Bruxelas não são um grande avanço e a UE continua a mover-se “tão lentamente como um paquiderme”, se comparada com o dinamismo demonstrado pelos seus concorrentes, sobretudo os EUA.

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Desbloquear o orçamento da UE para 2014-2020 oferece meios concretos para agir. Mas são objetivamente escassos. [...] Os seis mil milhões vão ser divididos por dois anos entre os 5,6 milhões de jovens desempregados com menos de 25 anos. A Europa sempre igual a si mesma: um pouco de ajuda aos necessitados, mas nunca o suficiente. Alguns impulsos menores para o crescimento, mas, sobretudo, simbólicos. Porque cada país tem de aprender a agir por conta própria, criando o seu próprio desenvolvimento ou procurando-o onde ele estiver.

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