Murdoch enfrenta deputados

Publicado em 20 Julho 2011 às 12:54

“Retratação de Murdoch”, titula o Guardian, depois de o barão da imprensa ter aparecido perante os deputados do Parlamento para responder a um inquérito sobre o escândalo das escutas telefónicas que aniquilou o seu empório mediático. O diário londrino refere que “Rupert Murdoch, desafiante, insistiu na passada terça-feira que não era responsável por aquilo a que chamou ‘invasão doentia e horrível’ da privacidade, cometida pela sua empresa, declarando que foi atraiçoado por colegas vergonhosos não identificados e que não sabia nada do encobrimento das escutas telefónicas”. Duas semanas depois da vaga de demissões dos executivos da News International, do chefe da polícia metropolitana de Londres e do suicídio de um antigo jornalista de Murdoch, o magnata da imprensa declarou que a audiência era "o dia mais humilde da [sua] carreira". Não obstante, recordou aos deputados que o tablóide de domingo, o News of the World, que encerrou no decorrer das revelações sobre escutas telefónicas, constituía apenas 1% do seu empório da News Corps.

Títulos de “retratação” dominam as primeiras páginas da imprensa britânica. The Independent, no entanto, opta por salientar a maneira como o escândalo está a enfraquecer o primeiro ministro britânico, David Cameron, que contratou para seu RP, Andy Coulson, um antigo editor do News of the World, diretamente implicado no escândalo. “Crise das escutas aproxima-se de Cameron”, acrescenta o diário londrino, depois de também ter sido descoberto que Neil Wallis, o antigo editor adjunto do News of the World detido a semana passada, trabalhou para o Partido Conservador de Cameron antes das eleições de 2010. “Num segundo golpe contra o primeiro ministro”, continua o The Independent, “foi revelado que o seu chefe de gabinete, Ed Llewellyn, pediu à Scotland Yard para não mencionar as escutas numa conferência de imprensa em Downing Street, no passado mês de setembro, quatro meses antes de Andy Coulson abandonar o seu cargo no Nº 10”. Com sugestões de que o primeiro ministro sabia do envolvimento dos jornalistas no caso das escutas telefónicas antes de os contratar, questiona-se cada vez mais a sua opção. The Independent nota que os “republicanos acreditam que o primeiro ministro está cada vez mais isolado e estão preocupados que os membros do gabinete, incluindo o chanceler George Osborne e o presidente trabalhista, a Baronesa Warsi, não tenham conseguido apoiá-lo”.

Para o Daily Mail, no entanto, o “escândalo real que deputados ignoram”, como o título indica, não é esta saga, nem as cenas ridículas na sala de audiência, com um homem a atirar um prato de espuma a Rupert Murdoch, e a levar um murro da mulher de Murdoch, Wendi Deng. “Enquanto Westminster se entretém com o frenesim das escutas telefónicas, a economia europeia atingia o rubro a noite passada”, queixa-se o tablóide. “Para piorar as coisas, soube-se ontem que os principais responsáveis por terem deixado a economia britânica de rastos – banqueiros e quadros financeiros – arrecadaram prémios num total de 15 milhões e 800 mil euros este ano”. Os trabalhadores do setor financeiro representam 4% da força de mão-de-obra britânica, mas ficam com cerca de 40% dos prémios pagos. “O volume desta ganância massiva é um ultraje para os milhões de trabalhadores britânicos que todos os dias lutam para se manterem financeiramente estáveis nesta crise económica”, escreve o Daily Mail, acrescentando que alguns dos maiores prémios foram pagos em bancos parcialmente detidos pelo Estado e, consequentemente, pelos contribuintes.

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