Neonazi Sven Krüger.

O meu vizinho nazi

Em Mecklenburg-Vorpommern, no leste da Alemanha, várias aldeias passaram a estar sob o controlo da extrema-direita, que impõe os seus valores. Alguns habitantes decidiram resistir, mas o combate é solitário.

Publicado em 15 Fevereiro 2011 às 16:28
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Finalmente, os Lohmeyer tiveram uma boa semana. No domingo, um comando de intervenção especial da polícia prendeu o seu pior vizinho. Desde terça-feira, a placa de bronze que proclamava “Jamel, comunidade livre, social, nacional” – explicando claramente ao visitante o que é que aqui faz a lei -, desapareceu da entrada da aldeia. Até mesmo o letreiro que aponta na direção de Braunau, o local de nascimento de Adolf Hitler, foi finalmente retirado por ordem das autoridades.

Por fim, a aldeia de Jamel ficou parecida com qualquer uma das outras da região, e deixou de ser um reduto nazi. Este ano, na passagem de ano, os Lohmeyer foram convidados pelo Presidente alemão, Christian Wulff, para irem a Berlim e receberam dezenas de cartas de apoio vindas de toda a Alemanha e até mesmo do estrangeiro. O músico e a sua mulher, escritora, são agora considerados cidadãos modelo, apesar de continuarem a desejar a calma, que há seis anos os fez sair de Hamburgo. Foi nessa altura que chegaram a Jamel, um lugarejo escondido entre Wismar e Grevesmühlen [no Land de Mecklembourg-Pomerânia ocidental, no nordeste do país], um beco sem saída, para além dos limites da democracia.

A polícia interrogou, uma vez mais, Sven Krüger, militante do NPD já condenado 12 vezes. Krüger, de 36 anos, construiu um pequeno império nazi em Jamel e arredores. “Nós somos os Jungs fürs Grobe” [literalmente: os gajos do trabalho sujo], pode ler-se à entrada da empresa de demolições que dirige na aldeia vizinha de Grevesmühlen.

Homens entoam cantos nazis à volta da fogueira

Krüger tem fama de ser um homem especialmente violento, que é melhor evitar. Neste momento está em prisão preventiva, acusado de recetação de bens roubados e de infração à lei sobre o porte de armas. Basta dar uma espreitadela à sua “Thing-Haus” de Grevesmühlen, onde o NPD estabeleceu o seu quartel-general, para compreender a que corrente de pensamento aderiu. O edifício está protegido por cercas de madeira e rolos de arame farpado, atrás dos quais há uma torre equipada com um projetor. Os cães ladram mal alguém se aproxima. O quartel-general do NPD mais parece um campo de concentração, o que não é por acaso.

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Os Lohmeyer receberam com uma mistura de alívio e apreensão a notícia de que Krüger tinha ficado em prisão preventiva. Sim, têm medo dele e dos seus amigos. “Pensam que a aldeia lhes pertence”, explica Birgit Lohmeyer, que já encontrou ratos mortos na sua caixa de correio. Fala disso e dos exercícios de tiro, na floresta, com um ar despreocupado. Mas as bebedeiras dos camaradas nazis, na praça da aldeia, são preocupantes. À noite, os homens entoam cânticos nazis à volta de uma fogueira. No verão passado, quando Krüger casou, centenas de militantes de extrema-direita vieram à festa na aldeia “nacional libertada” de Jamel.

Jamel não é, no entanto, a única aldeia onde os neonazis ou o NPD se sentem à vontade. Duas outras aldeias vizinhas são também aterrorizadas pelos extremistas. Mas aí ninguém quis falar sobre o problema. “A maior parte dos habitantes diz: não é de admirar que quem se debruça muito na janela acaba por cair”, afirma Horst Lohmeyer a propósito do clima de medo que reina na região. Em 2007, ele e a mulher decidiram dar esse passo quando um jornal resolveu escrever sobre Jamel. Os habitantes da aldeia não são todos nazis, declararam. Desde então, os raros vizinhos que não fazem parte dos apaniguados de Krüger cortaram relações com eles.

Artamans são inteligentes e hábeis

Dieter Maßmann conhece bem este sentimento de solidão. Presidente da Junta de Hoppenrade, pequena aldeia situada a uma centena de quilómetros a Leste, vive numa região pejada de lugarejos iguais a Jamel e confrontados com o mesmo problema. E é ele quem nos conta uma história estranha: as famílias extremistas fazem parte do movimento dos Artamans. É assim que se intitulam os “agricultores de solo e sangue” que ali se instalaram após a reunificação. Consideram-se herdeiros do movimento popular dos Artamans fundado nos anos 1920 e de que fizeram parte Heinrich Himmler, chefe das SS, e Rudolf Höß, comandante do campo de concentração de Auschwitz.

Os “neo-artamans” fingem ser pacíficos. Têm muitos filhos, dedicam-se à agricultura biológica, opõem-se aos OGM e apoiam o NPD, que tem seis representantes na assembleia regional. Em 2009, houve um incidente numa creche não muito longe de Hoppenrade: as crianças das famílias Artamans começaram a cantar canções nazis que, obviamente, tinham aprendido durante as férias.

Os Artamans são pessoas inteligentes e hábeis. “Tendem a estar cada vez mais presentes no espaço público através das associações e dos bombeiros”, explica Massnahm.

Duas vezes por ano, há uma reunião geral para designar os representantes municipais. Mas fora isso, os apoios são raros. Todos os verões, os Lohmeyer organizam um festival de música para mostrarem aos nazis que a aldeia ainda não lhes pertence completamente. O que pedem? A interdição do NPD. É a única maneira de privar os neonazis de uma base organizacional. Dieter Maßmann é da mesma opinião. Mas não tem grandes esperanças: enquanto Berlim não considerar a extrema-direita como um problema da ex-Alemanha de Leste, as hipóteses de sucesso são mínimas. No próximo mês de agosto, os Lohmeyer organizarão, uma vez mais, o seu festival. “Somos necessários aqui”, declara Birgit Lohmeyer.

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