Olli Rehn, o austero guardião do rigor

Tão popular no seu país quanto temido no resto da Europa, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários gosta, como bom finlandês, de ser discreto. Uma atitude difícil de manter, numa altura em que as novas regras em matéria de controlo orçamental fazem dele uma personagem chave da governação económica.

Publicado em 9 Novembro 2012 às 16:39

Os políticos franceses atiram frequentemente a culpa de decisões impopulares sobre "Bruxelas". Agora, podem também referir “Olli Rehn", o que vai enriquecer o seu vocabulário. Geralmente desconhecido, este finlandês, vice-presidente da Comissão Europeia, tornou-se um interveniente fundamental da governação europeia. O seu relatório de 7 de novembro sobre as previsões de crescimento na Europa são disso prova. Modesto até à invisibilidade, Olli Rehn não dá muito peso às suas presentes atribuições. "Não tenho superpoderes", explica a Les Echos. "Sou politicamente responsável perante o Parlamento Europeu e a minha única legitimidade resulta do Tratado Europeu. Foram os Estados-membros e o Parlamento que concordaram em reforçar a governação económica e a minha tarefa é apenas obrigar os Estados a praticar o que apregoam.”

Sem que a opinião pública [...] tenha disso consciência, ocorreu uma nítida alteração, nos últimos meses. Com a reforma interina do ano passado e o Pacto de Estabilidade – a legislação do "six pack”, na novilíngua bruxelense –, a Comissão Europeia tem agora um papel essencial na direção económica da Europa. Quando um país se afasta da ortodoxia fiscal (3% para o défice e 60% para a dívida pública) e não toma medidas corretivas consideradas suficientes, Bruxelas pode facilmente aplicar multas. E não há maneira de escapar a esta orientação: para se opor, o Estado ameaçado tem de reunir uma maioria qualificada no Conselho, ou seja, uma missão quase impossível.

Finlandês discreto

Não é realmente fácil um mau aluno conseguir ajuda dos demais. Além disso, os textos confiaram à direção geral de Olli Rehn a tarefa de identificar os "desequilíbrios macroeconómicos" que são forjados no interior dos Estados, como a perda de competitividade da França ou o início de uma bolha imobiliária na Holanda. Bruxelas pode então apresentar as suas famosas "recomendações" e pedir aos Estados um plano de ação para corrigir esses desequilíbrios. E isto é apenas o começo! Em 2013, o papel de vigilância de Bruxelas será reforçado com a entrada em vigor do pacto fiscal, que impõe a "regra de ouro". Por último, um texto legislativo ainda em discussão no Parlamento Europeu – o “two pack”, irmão mais novo do anterior – irá permitir a Bruxelas dar o seu parecer sobre projetos de lei de Finanças, no outono, antes da sua aprovação pelos parlamentos nacionais. "Atenção, não se trata de um direito de veto, apenas de uma opinião", desvaloriza Olli Rehn.

Apesar do seu cargo proeminente, Olli Rehn continua a agir com discrição. Excessiva. Recentemente, foram publicadas as agendas de Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA. Quem convocou ele para discutir a crise do euro? No primeiro semestre de 2012, conversou cerca de 20 vezes com Christine Lagarde, do FMI, e outras tantas com Mario Draghi, do BCE. Quanto a Olli Rehn, o seu telefone tocou... quatro vezes.

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Esta discrição não surpreende quem conhece realmente o homem que teve a seu cargo a pasta do alargamento, na anterior Comissão. Olli Rehn nasceu na Finlândia e, obviamente, isso não é de somenos. Os próprios finlandeses, quando estão em Bruxelas, divertem-se a explicar aos seus interlocutores a diferença entre um finlandês introvertido e um extrovertido: o primeiro olha para os pés, o segundo olha para os do parceiro...

O comissário continua muito ligado ao seu país de origem. Foi lá que ganhou os seus galões, nomeadamente como chefe de gabinete do primeiro-ministro, no início da década de 1990. Hoje, na Grécia, em Portugal ou na Irlanda, vilipendiam-se os "men in black", os quadros do FMI e da Comissão que lhes entram em casa a aplicar a poção amarga da austeridade; mas, naquela época, esses "men in black" ameaçavam instalar-se em Helsínquia. "A Finlândia atravessava a sua mais grave recessão económica. Sei o que é ter o FMI diante de nós. Em 1992, para sanear as contas, tivemos que refazer o orçamento do ano seguinte por quatro vezes, em poucas semanas, a fim de evitar a ajuda internacional", recorda Olli Rehn.

Pouco adepto da homeopatia

Regularmente, atribuem-lhe a ambição de concorrer à presidência do país. É uma figura respeitada na Finlândia e nunca perde uma oportunidade de lembrar o seu amor às tradições finlandesas, como a sauna.

No início de outubro, para lutar contra a ascensão do partido populista dos "Verdadeiros Finlandeses" e contrariar a relutância dos seus compatriotas em ajudar os países do Sul, escreveu um livro, No centro da tempestade, um relato da crise do euro e de defesa da Europa. "É o meu contributo para o debate em defesa da Europa na Finlândia", afirma o ativista da UE desde a primeira hora. Facto insólito é os lucros da venda do livro reverterem para clubes juvenis de futebol. É que o futebol é a grande paixão de Olli Rehn. "Foi graças a esse desporto que me familiarizei com a Europa", explica o fã do Manchester United, ao mesmo tempo que enumera os nomes dos clubes europeus.

Este dirigente tem convicções económicas muito arreigadas, mais próximas das do Norte da Europa que dos apelos a uma rápida mutualização da dívida através dos eurobonds. Há três anos na primeira linha da crise do euro, o finlandês é um defensor do rigor. O “Senhor 3%" não é muito sensível aos apelos dos políticos e economistas que reclamam um abrandamento da austeridade. Não se deixa convencer pelos recentes estudos do FMI que criticam o efeito recessivo das políticas de austeridade.

Pouco adepto da homeopatia, o comissário prefere remédios de cavalo, que aleijam mas curam rapidamente. Da torre de controlo de Bruxelas, opõe-se assim à Letónia, agora quase candidata ao euro, e à Grécia, que continua a perder tempo e precisa de medicação cada vez mais forte. No entanto, Olli Rehn insiste em que o pacto fiscal está longe de “ser estúpido" e deixa uma margem de avaliação, em caso de recessão. Aliás, desde o verão, os seus serviços concederam mais tempo a Portugal e Espanha. Favorável ao caso a caso, adversário de uma transferência generalizada dos esforços, o Comissário está preparado para todas as pressões políticas.

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