Protesto europeu esconde impotência

A União Europeia denunciou a condenação da opositora birmanesa Aung San Suu Kyi a 18 meses de prisão domiciliária e anunciou "novas medidas dirigidas" contra os líderes birmaneses. Mas a imprensa europeia está céptica quanto aos meios de pressão e à real vontade de certos países em intervir.

Publicado em 12 Agosto 2009 às 15:00

Na comunidade internacional, a União Europeia foi a primeira a reagir ao anúncio da nova condenação da opositora birmanesa Aung San Suu Kyi, na terça-feira 11 de Agosto, a 18 meses de prisão domiciliária. "A União Europeia condena o veredicto dirigido contra Suu Kyi, dirigente da Liga Nacional para a Democracia e laureada com o Prémio Nobel da Paz", anunciou a presidência sueca da UE, numa declaração publicada no próprio dia em Bruxelas. Anunciou igualmente um reforço das sanções económicas para com "um dos mais duros regimes totalitários do mundo", nas palavras do ex-Presidente checo Vaclav Havel, citadas par Lidové Noviny.

""As sanções europeias já em vigor, reforçadas em 2007, incluem nomeadamente um embargo ao fornecimento de armas, a proibição da entrada na UE e o congelamento dos bens de uma dezena de responsáveis da Junta Militar, cortes nas relações diplomáticas e proibição de importação de madeira, metais, minérios e pedras preciosas ou semipreciosas", recorda o site de Internet francês de questões económicas L'Expansion.com. o Financial Times Deutschland, recorda que os Vinte e Sete se deverão pronunciar em breve pelo alargamento do congelamento dos bens de 1.200 empresas birmanesas na Europa.

Saudando as declarações de Bruxelas, o Presidente francês Nicolas Sarkozy e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, foram igualmente céleres a apelar a novas medidas de sanção económica, acrescenta o L' Expansion.com, nomeadamente a proibição de visto para os responsáveis do regime e ao controlo dos rubis e da madeira. Pela voz do seu primeiro-ministro Gordon Brown, que reafirmou ao Der Spigel a sua ideia de um embargo de armas coordenado pelas Nações Unidas, o Reino Unido parece ir mais longe. Mas estas declarações não devem produzir efeito.

Silêncio incómodo sobre a petrolífera Total

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Como sublinha o The Independent, a UE não parece suficientemente poderosa, do ponto de vista económico, para poder influenciar o regime: "Os países ocidentais devem fazer pressão sobre os países asiáticos que apoiam a Junta. Não é a França que vende armas ao regime, mas a China. Não é em Londres que os generais têm casas, mas na Tailândia. São os dez países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Ansea), e não a União Europeia, que podem pôr fim ao regime", [escreve-se](http:// http://www.independent.co.uk/opinion/leading-articles/leading-article-burmas-isolation-must-be-made-more-complete-1770656.html) no diário londrino. São os dez países da Associação das Nações do Sudeste Asiático(Ansea), e não a União Europeia, que podem pôr fim ao regime", acrescenta o mesmo jornal. .

Também para o Spiegel Online, a incapacidade da UE em exercer pressão sobre o regime birmanês reside na fraqueza das relações comerciais entre a Europa e a Birmânia, e no desejo da UE de não prejudicar uma população já tão pobre. Contudo, se há domínio em que a UE pode pesar em termos de sanções, é o da energia. Com efeito, a França está presente no país com a petrolífera Total. Em Maio passado, Bernard Kouchner reconheceu publicamente que o grupo energético francês representava "o único meio de pressão económico sério", sublinha o L' Expansion.com. Ora, salienta o site de Internet da revista mensal económica, "nenhum dos dois líderes franceses [nem o Presidente nem o ministro dos Negócios Estrangeiros] evocou a Total, investidor essencial na Birmânia desde 1992".

O Financial Times Deutschland atribui claramente a Paris responsabilidades na inércia da União perante a Junta, e recorda que, em 2007, aquando do primeiro reforço das sanções europeias, “era necessário proibir igualmente as importações de petróleo da Birmânia. Mas de acordo com diplomatas, esta sanção, apoiada por certos países, foi contrariada pela resistência francesa. Sarkozy condenou certamente com vivacidade a pena de prisão domiciliária de Suu Kyi; mas segundo os diplomatas, a restrição das importações de petróleo continua a não ser equacionada”.

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