Passageiros esperam pelos autocarros internacionais que partem da estação central de Sófia, Bulgária.

Reino Unido enterra a cabeça na areia

Segundo um novo relatório oficial, a vaga de imigração búlgara e romena em 2014 não deverá ser tão elevada como indicavam algumas estimativas anteriores. Mas o facto não é razão para se ignorarem as consequências que a imigração de longo prazo terá sobre o urbanismo e os serviços sociais, escreve o conservador “Daily Telegraph”.

Publicado em 5 Abril 2013 às 15:32
Passageiros esperam pelos autocarros internacionais que partem da estação central de Sófia, Bulgária.

Em 2014, quando forem levantadas as restrições temporárias impostas quando os dois países aderiram à União Europeia, o Reino Unido e outros países europeus abrirão os seus mercados de trabalho à Roménia e à Bulgária. Os ministros [britânicos] deixaram claro que não podem fazer nada para impedir a entrada aos migrantes que queiram entrar no país: até a ideia de uma campanha publicitária destinada a convencer os candidatos a imigrantes de que, afinal, o Reino Unido não era propriamente um paraíso foi posta na prateleira.

Portanto, a questão não é como impedir novas chegadas mas sim se estaremos a fazer o suficiente para nos prepararmos para elas. Nessa matéria, a resposta é um categórico não. É evidentemente difícil fazer estimativas realistas quanto à amplitude do afluxo, mas a última tentativa, realizada pelo Instituto Nacional de Investigação Económica e Social a pedido do Governo, leva a ineficácia ao extremo. Os autores concluem que “o Reino Unido não é um dos destinos preferidos” dos búlgaros e romenos, mas acrescenta que a situação poderá mudar.

E, sem apresentar nada que se assemelhe a uma estimativa de números, transmite a sensação global de que o número de entradas será bastante inferior às 50 mil por ano, previstas pelo grupo de reflexão MigrationWatch UK, e que não há motivos para grandes preocupações.

Menos grandiloquência e mais planeamento

O que é perigosamente complacente. Apesar de não se conhecer de facto qual o número de entradas, é sem dúvida melhor estar preparado demais do que não estar preparado. Mais uma vez, estamos em consonância com a falta de preparação mais genérica para as consequências da imigração. Por exemplo, o elevado número de nascimentos alimentado pelas novas entradas submeteu a pressões terríveis as vagas nas escolas: mesmo sem um único visitante a mais, vindo de Sófia ou Bucareste, a Inglaterra continuará a precisar de 400 novas escolas primárias por ano, para resolver o problema. O mesmo se pode dizer em relação aos serviços públicos.

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Num importante trabalho publicado, na semana passada, neste jornal, Frank Field e Nicholas Soames sublinhavam que, mesmo que conseguíssemos restringir a imigração líquida a cerca de 40 mil por ano, o que colocaria a população no limite máximo de 70 milhões, continuaria a ser preciso construir “o equivalente a mais uma [cidade de] Birmingham, Manchester, Liverpool, Bradford, Leeds, Sheffield, Glasgow, Bristol e Oxford”, para arranjar espaço para os recém-chegados. O problema é tão grave, defendiam os autores do artigo, que a UE poderia vir a ter de suspender a livre circulação de mão-de-obra durante os períodos de desemprego elevado.

Neste momento, são pouquíssimas as hipóteses de isso acontecer. Compete, por conseguinte, aos políticos – dos dois lados da Câmara dos Comuns – apostar um pouco menos na grandiloquência e muito mais no planeamento. Têm de pensar numa forma não só de limitar a imigração mas também de garantir que, a nível local e nacional, os serviços públicos serão capazes de fazer face aos efeitos de um crescimento populacional inexorável, na nossa cada vez mais sobrepovoada ilha.

Visto de Bucareste

Não é nada pessoal

“Os ingleses não nos detestam”, assegura o site de informação romeno Hotnews:

Como dizem os ingleses, não podemos levar a peito as coisas que fazem as delícias da imprensa e são assunto de campanha de alguns políticos britânicos. Somos os testas-de-ferro de uma crise económica que coincide com uma crise da União Europeia, na qual as discussões sobre imigrantes dominam a agenda pública!

Para o site Hotnews, no entanto, “hoje não é fácil ser-se romeno na Grã-Bretanha”. As notícias negativas sobre romenos geram um sentimento de xenofobia “explorado por alguns políticos como, por exemplo, Diana James, candidata do UKIP às eleições parciais de Eastleigh, que afirmou que os romenos têm uma predileção pela delinquência!”. Pediu desculpa mas acabou por ficar em segundo lugar, com 28% dos votos.

O site refere ainda o facto de uma petição online, a pedir medidas contra a imigração de búlgaros e romenos, que recolheu mais de 140 mil assinaturas, ser debatida na Câmara dos Comuns no dia 22 de abril.

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