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Rumo a uma EUROTAN?

A NATO atravessa uma crise profunda e várias vozes defendem uma "europeanização" progressiva da Aliança Atlântica, para instaurar uma "hegemonia benevolente" da Europa sobre o mundo. Para isso, falta a UE criar uma verdadeira política de defesa comum, escreve um analista polaco.

Publicado em 21 Dezembro 2010 às 16:19

Hoje, é claramente no Afeganistão que as trajetórias de europeus e norte-americanos se separam. O atual formato da NATO impede o seu desenvolvimento e exige uma reforma profunda. O principal defeito é a falta de uma visão clara de uma ameaça comum, que garantiria uma razão de ser à união entre os Estados Unidos da América e a Europa, como no tempo da Guerra Fria.

Os aliados poderiam basear a sua aliança numa visão comum sobre uma ordem mundial em que os Estados Unidos deteriam, por meio da NATO, o controlo do mundo ocidental, fornecendo-lhe segurança. As guerras no Iraque e no Afeganistão, contudo, revelaram o malogro da estratégia norte-americana de utilização unilateral da Aliança como arma eficaz do Ocidente na guerra global contra o terrorismo islâmico, guerra essa que deveria ter dado um novo impulso à NATO.

Uma hegemonia benevolente da Europa

Uma "europeização" progressiva da NATO, a par de uma emancipação militar da União Europeia, poderia constituir uma solução para esta incompatibilidade de interesses entre os aliados. O espaço assim deixado vago pela retirada norte-americana poderia dar lugar a uma "hegemonia cordial" da Europa, que utilizaria o seu potencial para estabelecer a paz e uma nova ordem moral no mundo, em pé de igualdade com os Estados Unidos.

Trata-se de uma visão que vem germinando na Europa, como demonstra o recente acordo franco-britânico de cooperação militar. Contudo, o cenário de uma rápida retirada dos Estados Unidos da NATO tem poucas possibilidades de se concretizar para já. Tal descomprometimento daria um golpe na supremacia global dos Estados Unidos, seria prejudicial para o equilíbrio mundial e perigoso para a Europa, que necessita de tempo para construir um pilar militar que lhe permita exercer um papel na liderança mundial.

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Atualmente, a hegemonia norte-americana baseia-se em dois pilares -- a Europa e o Japão --, ambos dependentes da economia norte-americana. Essa dependência ficou perfeitamente ilustrada e é penosamente sentida na presente crise financeira. Tanto a União Europeia como o Japão continuam, além disso, sob o protetorado militar dos Estados Unidos, o que permite a Washington exercer uma influência discreta sobre os processos de decisão dos seus protegidos, nomeadamente brandindo ora a ameaça chinesa ora a russa (soviética).

Qualquer tentativa de emancipação militar do Japão é impossibilitada pelo Artigo 9.º da Constituição japonesa, que proíbe o uso da força como meio de regular diferendos internacionais e a criação de forças armadas. Quanto à eventual procura de autonomia militar por parte da União Europeia, é bloqueada pela própria estrutura da NATO, dominada pelos Estados Unidos.

Sem defesa comum, a UE vai errar no rumo político

Enquanto a NATO existir na sua forma atual e a União Europeia continuar militarmente fragmentada, não poderá aspirar ao estatuto de parceiro nem com os Estados Unidos, nem com a Rússia, para não falar da China. Porque é a força militar que continua a fazer parte integrante da política estrangeira levada a cabo por Washington e pelo Kremlin, o que não é infelizmente o caso de Bruxelas. Com efeito, impressiona ver como a Rússia, embora mais fraca economicamente do que a União Europeia, consegue pesar diplomaticamente mais que Bruxelas, só por evocar o fantasma das suas forças armadas e do seu arsenal nuclear.

Sem forças armadas e desprovida de uma política de defesa comum, a União Europeia vai deambular sem uma direção política precisa, entre os Estados Unidos e a Rússia, à deriva, como um náufrago. Enquanto persistir este estado de coisas, os diferentes países (como a Polónia) procurarão protetores fora do Velho Continente.

A emancipação militar da Europa e a constituição de um exército capaz de apoiar uma "hegemonia europeia" criariam uma nova divisão do mundo ocidental, em duas potências com poderes comparáveis. A civilização ocidental, com a potência norte-americana contrabalançada pela União Europeia, teria assim todas as possibilidades de manter o seu lugar na competição pela liderança mundial.

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