No dia 6 de maio, sete partidos gregos entraram para o parlamento. Do ponto de vista das principais correntes políticas europeias, quatro deles – três partidos de esquerda e um de direita – podem ser considerados extremistas. Não tendo conseguido formar governo, os gregos vão de novo às urnas [a 17 de junho]. Mas, entretanto, os cofres do Estado – não reformado – ter-se-ão esgotado e a Grécia terá provavelmente saído da zona euro.
Os políticos europeus, incluindo o novo Presidente francês, vão ser obrigados a tomar decisões sobre acontecimentos em relação aos quais têm apenas uma influência limitada, ou mesmo nenhuma. Em vez de apostarem na prevenção, os dirigentes políticos europeus vão extinguir o incêndio (pela terceira vez, pelo menos, desde o outono de 2009). Mais uma vez, a grave crise grega, que já podia ter sido resolvida há muito tempo através de uma falência controlada, afasta-os da questão estratégica da futura evolução da Europa e das eventuais soluções.
Suicídio económico
Numa perspetiva a longo prazo, a prosperidade da Europa vai depender sobretudo da maneira como os chefes da zona euro conseguirem articular o apoio ao crescimento e a política de cortes orçamentais e não tanto da questão de saber se os gregos vão decidir optar, através de eleições democráticas, por um suicídio económico. Tudo indica que a Europa se aproxima de uma decisão que já devia ter tomado há muito tempo: deixar a Grécia sair da zona euro.
Atingidos por uma crise semelhante, os americanos foram capazes de tomar decisões estratégicas rápidas e cruciais: apoiaram o setor bancário e as principais empresas do tecido económico nacional, como foi o caso da indústria automóvel. A solução rápida compensou. O estado já foi reembolsado e Detroit volta a despertar, ao passo que, na Europa, continuamos às voltas.
Os americanos souberam olhar para o futuro e decidir. Quando têm de enfrentar uma dificuldade maior, os europeus enchem-se de rodeios. Apanhados no meio de uma crise da integração europeia, vivemos uma espécie de remake da situação que, há dez anos, Robert Kagan, pensador norte-americano, descrevia assim no seu famoso ensaio, O paraíso e o poder: a América e a Europa na nova ordem mundial: os americanos vêm de Marte e os europeus de Vénus.
Há diferenças fundamentais na conceção da maneira de solucionar problemas a longo prazo. Os americanos reagem com medidas rápidas e radicais para que as dificuldades não ponham em risco a sociedade americana, o seu estilo de vida e a estabilidade do seu sistema político. É precisamente por estas razões que os europeus, enfiados na concha da integração europeia e do Estado-Providência, tão difícil de construir no pós guerra, têm medo de soluções rápidas a longo prazo.
Bandeira e imposto comuns
Precisam de tempo para admitir a ideia de que um dia possam arriscar a vida sob uma mesma bandeira e pagar um imposto comum. A introdução desse imposto seria, no entanto, suscetível de contribuir para a redução do défice democrático da União Europeia – os contribuintes iriam poder e querer controlar melhor as despesas de Bruxelas. Os Estados-nação vão ser, ainda durante muito tempo, unidades funcionais essenciais no continente europeu, mas as atuais dificuldades da zona euro, que se repetem incessantemente, deveriam obrigá-los a pensar segundo uma lógica a mais longo prazo.
No âmbito da próxima cimeira da NATO (20 e 21 de maio de 2012, em Chicago), irá haver certamente um acréscimo das discussões sobre as ligações transatlânticas e sobre a crise das relações entre a Europa e os EUA. Poderá, pois, ser útil recordar o velho conceito de Robert Kagan, desta vez aplicado à política económica: os americanos são, muito simplesmente, mais flexíveis e empreendedores e sabem refletir de uma maneira mais estratégica.
Para continuar a ter uma existência mundial competitiva, a União Europeia só tem uma alternativa: mudar a cultura estratégica de curto prazo, pensando nas categorias confortáveis do Estado-Providência e nos ciclos eleitorais de quatro anos. Carece de figuras visionárias, que mostrem o caminho em direção a um novo modo de conexão dentro do espaço europeu, que indiquem onde e como investir e fazer crescer a competitividade.
Carece igualmente de dizer com firmeza aos que comprometem os objetivos comuns que a prosperidade será construída sem eles. Tudo depende da escolha, que continua a ser livre e democrática. A solidariedade na Europa tem e deve continuar a ter duas faces. Só assim é que a UE poderá continuar a avançar.