Notícias Crise da zona euro

Sejamos um pouco mais americanos!

A crise grega e a falta de uma reação decisiva dos dirigentes europeus acabaram por encobrir o objetivo mais amplo do futuro da UE. Visto que os EUA souberam encontrar soluções eficazes, está na hora de nos inspirarmos no estado de espírito americano, argumenta um cronista checo.

Publicado em 18 Maio 2012 às 13:42

No dia 6 de maio, sete partidos gregos entraram para o parlamento. Do ponto de vista das principais correntes políticas europeias, quatro deles – três partidos de esquerda e um de direita – podem ser considerados extremistas. Não tendo conseguido formar governo, os gregos vão de novo às urnas [a 17 de junho]. Mas, entretanto, os cofres do Estado – não reformado – ter-se-ão esgotado e a Grécia terá provavelmente saído da zona euro.

Os políticos europeus, incluindo o novo Presidente francês, vão ser obrigados a tomar decisões sobre acontecimentos em relação aos quais têm apenas uma influência limitada, ou mesmo nenhuma. Em vez de apostarem na prevenção, os dirigentes políticos europeus vão extinguir o incêndio (pela terceira vez, pelo menos, desde o outono de 2009). Mais uma vez, a grave crise grega, que já podia ter sido resolvida há muito tempo através de uma falência controlada, afasta-os da questão estratégica da futura evolução da Europa e das eventuais soluções.

Suicídio económico

Numa perspetiva a longo prazo, a prosperidade da Europa vai depender sobretudo da maneira como os chefes da zona euro conseguirem articular o apoio ao crescimento e a política de cortes orçamentais e não tanto da questão de saber se os gregos vão decidir optar, através de eleições democráticas, por um suicídio económico. Tudo indica que a Europa se aproxima de uma decisão que já devia ter tomado há muito tempo: deixar a Grécia sair da zona euro.

Atingidos por uma crise semelhante, os americanos foram capazes de tomar decisões estratégicas rápidas e cruciais: apoiaram o setor bancário e as principais empresas do tecido económico nacional, como foi o caso da indústria automóvel. A solução rápida compensou. O estado já foi reembolsado e Detroit volta a despertar, ao passo que, na Europa, continuamos às voltas.

Newsletter em português

Os americanos souberam olhar para o futuro e decidir. Quando têm de enfrentar uma dificuldade maior, os europeus enchem-se de rodeios. Apanhados no meio de uma crise da integração europeia, vivemos uma espécie de remake da situação que, há dez anos, Robert Kagan, pensador norte-americano, descrevia assim no seu famoso ensaio, O paraíso e o poder: a América e a Europa na nova ordem mundial: os americanos vêm de Marte e os europeus de Vénus.

Há diferenças fundamentais na conceção da maneira de solucionar problemas a longo prazo. Os americanos reagem com medidas rápidas e radicais para que as dificuldades não ponham em risco a sociedade americana, o seu estilo de vida e a estabilidade do seu sistema político. É precisamente por estas razões que os europeus, enfiados na concha da integração europeia e do Estado-Providência, tão difícil de construir no pós guerra, têm medo de soluções rápidas a longo prazo.

Bandeira e imposto comuns

Precisam de tempo para admitir a ideia de que um dia possam arriscar a vida sob uma mesma bandeira e pagar um imposto comum. A introdução desse imposto seria, no entanto, suscetível de contribuir para a redução do défice democrático da União Europeia – os contribuintes iriam poder e querer controlar melhor as despesas de Bruxelas. Os Estados-nação vão ser, ainda durante muito tempo, unidades funcionais essenciais no continente europeu, mas as atuais dificuldades da zona euro, que se repetem incessantemente, deveriam obrigá-los a pensar segundo uma lógica a mais longo prazo.

No âmbito da próxima cimeira da NATO (20 e 21 de maio de 2012, em Chicago), irá haver certamente um acréscimo das discussões sobre as ligações transatlânticas e sobre a crise das relações entre a Europa e os EUA. Poderá, pois, ser útil recordar o velho conceito de Robert Kagan, desta vez aplicado à política económica: os americanos são, muito simplesmente, mais flexíveis e empreendedores e sabem refletir de uma maneira mais estratégica.

Para continuar a ter uma existência mundial competitiva, a União Europeia só tem uma alternativa: mudar a cultura estratégica de curto prazo, pensando nas categorias confortáveis do Estado-Providência e nos ciclos eleitorais de quatro anos. Carece de figuras visionárias, que mostrem o caminho em direção a um novo modo de conexão dentro do espaço europeu, que indiquem onde e como investir e fazer crescer a competitividade.

Carece igualmente de dizer com firmeza aos que comprometem os objetivos comuns que a prosperidade será construída sem eles. Tudo depende da escolha, que continua a ser livre e democrática. A solidariedade na Europa tem e deve continuar a ter duas faces. Só assim é que a UE poderá continuar a avançar.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico