TINA no comando

Publicado em 4 Novembro 2011 às 14:36

Desde que a crise da dívida ameaça a continuação da moeda única, a dupla “Merkosy” assumiu o comando do navio do euro. Não tanto em consequência de um acordo entre os países-membros, mas antes por uma simples constatação: não há alternativa — There Is No Alternative, TINA, como dizia uma certa Dama de Ferro.

Ou talvez haja. Há a Comissão Europeia, guardiã dos tratados e “governo económico” da UE, como lhe chamou recentemente o seu presidente, Durão barroso. Mas, quando se trata da zona euro, é o Eurogrupo – os ministros da Economia, ou seja, os governos – que tomam as decisões. Ou seja, também aqui se trata de Paris e Berlim. A recente nomeação do presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy como “senhor euro”, com a bênção de Angela Merkel e de Nicolas Sarkozy, reforça o papel dos Estados-membros, com a Alemanha e a França à cabeça, na governação da economia da “Eurolândia”.

O problema é que esta configuração não está enquadrada por nenhum acordo e as decisões tomadas por “Merkozy” parecem escapar cada vez mais ao debate, mesmo no seio da zona euro. De facto, nenhum outro país está em posição de influenciar as discussões nem de ter um papel de contrapeso perante um rolo compressor que faz cada vez menos cerimónia quando se dirige aos seus pares, como ficou demonstrado pelo tom com que a hipótese de um referendo na Grécia foi criticada por “Merkozy”.

Entre os outros “grandes”, a Itália, terceira economia da zona euro, está no centro das atenções por causa da precariedade do seu Governo e das suas finanças públicas, enquanto a Espanha, em plena campanha eleitoral, não sai do mesmo sítio. Atingidos pela crise da dívida, estão, tal como Portugal e a Irlanda, muito longe do “triplo A” das agências de notação que parecem conceder poderes sobrenaturais aos países que ainda deles beneficiam. O que, aliás, explica porque é que o Presidente francês está obcecado em manter o seu país no círculo mais popular do momento. Na zona euro, os outros membros do clube – Áustria, Finlândia, Luxemburgo e Holanda – ou não têm peso ou estão alinhados com a dupla franco-alemã.

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Mas, embora capaz de evitar as armadilhas mais ameaçadoras, parece não fazer ideia da direção a dar ao navio do euro – nem tem mandato para tal. Esta ausência de clareza e de legitimidade influencia o desenrolar da crise e dá uma ideia de barco à deriva. Ora, perante a tempestade, só estamos dispostos a ceder o leme a quem conseguir levar o navio e a tripulação a bom porto.

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