Uma defesa demasiado prudente

Publicado em 5 Novembro 2010 às 11:55

Independentemente daquilo que os tabloides britânicos dizem, a Guerra dos Cem Anos e de Waterloo fazem parte da História. Esta semana, França e Reino Unido decidiram estabelecer uma cooperação militar sem precedentes na crónica agitada das suas relações e sem paralelo na Europa.

A 2 de novembro, Londres e Paris chegaram a acordo para a criação de uma "força expedicionária conjunta" de cinco mil homens e a partilha de dois porta-aviões a partir de 2020. Estão previstas igualmente cooperações industriais em matéria de veículos aéreos não tripulados, satélites e meios de comunicação. Mas o compromisso mais surpreendente, e mais simbólico, é a utilização pelo exército britânico, a partir de 2014, de equipamentos franceses de simulação de ensaios nucleares.

Este último aspeto é um salto quantitativo importante, ao tocar no ponto fulcral da doutrina de defesa francesa, que desde De Gaulle assenta na soberania nacional, visto que o arsenal nuclear britânico depende dos EUA. De facto, aproxima as duas filosofias de Defesa da Europa: uma defesa assegurada pela NATO, sob o escudo nuclear norte-americano, e uma defesa europeia associada à NATO, mas autónoma. Em 2009, já a França tinha integrado o Comando Militar da NATO.

Este acordo é simultaneamente bom e mau para a Europa. É bom porque, ao darem este passo, França e Reino Unido abrem a porta às sinergias europeias num domínio crucial para a influência da UE no mundo. Mas na condição de os dois países abandonarem o quadro da cooperação bilateral. E é aqui que se encontra a má notícia. Como refere o editorialista espanhol, José Ignacio Torreblanca, em El País, o acordo de 2 de novembro "esquece" a referência à política europeia de segurança e de defesa. Como se esta aproximação histórica só tivesse sido motivada pela necessidade de poupar em tempo de crise.

Newsletter em português

Em 1998, em Saint-Malo, Jacques Chirac e Tony Blair comprometeram-se a fazer avançar a Europa da defesa para uma cooperação mais estreita entre os dois países. Mas a guerra do Iraque veio alterar estes planos. Para ressuscitar esta ambição, Nicolas Sarkozy e David Cameron têm de imprimir uma visão política à harmonia militar.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico