Um soldado alemão em patrulha perto de Kunduz, no Afeganistão, a 24 de Outubro de 2009 (AFP)

Uma missão cada vez mais vaga

Os Estados Unidos pedem mais soldados contra os talibãs. Mas, como mostra o debate em curso no Parlamento alemão, os aliados renunciaram ao mito de uma guerra boa, sem contudo apresentarem uma alternativa credível à opinião pública.

Publicado em 3 Dezembro 2009 às 14:49
Um soldado alemão em patrulha perto de Kunduz, no Afeganistão, a 24 de Outubro de 2009 (AFP)

Os partidários do envio de forças alemãs para o Afeganistão foram duramente atingidos. Tinham vendido a guerra, invocando grandes princípios morais, ao mesmo tempo que prometiam uma intervenção sem riscos. Os dois pilares desta construção afundaram-se agora com o discurso de Obama [no dia 1 de Dezembro]. Neste momento, o Governo federal terá de reconhecer que a nova estratégia dos Estados Unidos e dos seus aliados no Afeganistão assenta numa visão mais prosaica da guerra. Ora, sem pathos, sem o mito de uma guerra justa travada por soldados bons, a Alemanha não participaria neste conflito. Sem isso, a coligação vermelho-verde liderada por [Gerhard] Schröder e [Joschka] Fischer não teria apoiado o envio dos primeiros soldados, há oito anos. E, agora, os seus sucessores receiam claramente perder os últimos resquícios de apoio em favor do posicionamento de soldados no Hindu Kush.

Obama não se limitou a anunciar o reforço rápido das unidades americanas e a sua retirada em Julho de 2011. Também redefiniu a guerra e os seus objectivos: já não se trata apenas de democracia, de direitos do homem ou do sonho de um confronto militar em nome de um mundo melhor, um sonho que não foi apenas a Administração Bush a acalentar. Obama apresentou não uma visão mas uma estratégia. Não somos obrigados a aprová-la. Aliás, o próprio Presidente americano não parece especialmente convencido no que se refere à sua aplicação prática. Mas, pelo menos, apresentou o seu plano à opinião pública. E, o que é ainda mais importante, descreveu claramente as suas consequências.

Os seus aliados alemães estão longe de ter feito o mesmo. Se o Bundestag autorizar hoje, mais uma vez, o prolongamento do mandato da Bundeswehr no Afeganistão, será como se as mudanças de estratégia de Obama não se tivessem verificado. As decisões teriam sido tomadas como se a Bundeswehr se encontrasse ainda no início de uma missão até agora bem sucedida. Ao fim de oito anos, o Bundestag estaria a confiar ao exército alemão um mandato sobre o qual o mínimo que se pode dizer é que está ultrapassado.

O Governo federal faz questão de discutir o assunto com os aliados. Não com o Parlamento. E, sobretudo, não com o soberano democrático, ou seja, com o povo. A novíssima transparência no domínio da política militar alemã, anunciada há uma semana [com a criação de uma comissão de inquérito com a missão de averiguar as circunstâncias da ocultação de informação, pelo Ministério da Defesa, depois de um bombardeamento que causou a morte de vários civis], já pertence ao passado.

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União Europeia

30 000 soldados no terreno

Latente desde 2001, o debate sobre a legitimidade e os objectivos da presença ocidental no Afeganistão foi relançado em vários países europeus, depois do apelo do Presidente Obama ao envio de mais tropas. Actualmente, estão posicionados no terreno cerca de 30 000 soldados oriundos de 25 países da UE, além dos 71 000 que integram a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF). Pressionados pelo secretário-geral da NATO, Fogh Anders Rasmussen, os aliados europeus de Washington vão ter de se pronunciar sobre o futuro do seu compromisso. Em 2 de Dezembro, a Polónia declarou estar disposta a enviar mais 600 homens. No dia 3, a Itália anunciou um reforço de entre 500 e 1500 soldados. Mas os Países Baixos, onde o Governo de coligação está dividido sobre esta questão, mantêm a sua intenção de retirar do Afeganistão em 1 de Dezembro de 2010. Entretanto, a França vai esperar a realização da conferência internacional, em fins de Janeiro, para decidir se irá ou não enviar instrutores para o exército afegão. Por seu turno, o Reino Unido, que, depois dos Estados Unidos, forneceu o contingente mais numeroso, já tinha anunciado o próximo envio de 500 soldados.

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