David Cameron está “zangado” com o obstrucionismo mostrado por alguns dos principais Estados membros face ao pedido de adesão da Turquia à UE, e prometeu “lutar” ao lado de Ancara. Aqueles que se perguntam por que razão escolheu o jovem primeiro-ministro uma posição tão invulgarmente dura (que pode voltar contra ele a Alemanha e a França) encontram a resposta umas linhas mais à frente no seu discurso perante o Parlamento turco: a Europa precisa do apoio dos seus vizinhos do Médio Oriente para uma série de questões prementes, a primeira das quais as novas sanções contra o programa nuclear do Irão.
As “cândidas” palavras de Cameron podem ser o reconhecimento do sucesso da nova estratégia turca para deixar de ser a eterna noiva e passar a ter o muito mais lucrativo papel de corretor de poder, mas não é o único país, atualmente, a querer entrar na UE. Depois do Tribunal Internacional de Justiça ter legitimado a independência do Kosovo, rejeitando o recurso de Belgrado, os Ministros dos Negócios Estrangeiros de Itália, da Eslováquia e da Áustria sublinharam a necessidade de acalmar os sentimentos pró-europeus feridos da Sérvia, e de apressar o processo de adesão como forma de compensação pela perda sofrida.
Durante a espera para a entrada na UE as ultrapassagens de lugares na fila e as querelas são uma prática comum. Muitos candidatos de longa data não esconderam o seu descontentamento perante o rápido caminho aberto para a Islândia quando este país procurou abrigo no euro durante a tempestade financeira (no entanto, com o sol a brilhar de novo, Reykjavik voltou a abrandar). Entre esses está a Croácia, que estava melhor colocada do que muitos dos que entraram em 2004 mas acabou por ser bloqueada por causa de uma discussão fútil com a Eslovénia sobre uma fronteira marítima.
Para aumentar a sua visibilidade e influência internacional, a UE acaba de lançar o Seviço de Ação Externa. Os seus elevados custos e a sua complexidade operacional fizeram levantar muitas sobrancelhas, numa altura de crise. No entanto, havia uma maneira muito mais fácil de conseguir atingir os objetivos a curto prazo: estabelecer critérios de adesão claros e iguais para todos e libertar o processo dos interesses particulares dos Estados membros. O poder de recrutar novos membros é a melhor das poderosas ferramentas que Bruxelas pode usar para influenciar as políticas dos seus vizinhos. Ao contrário, uma atitude iníqua e caprichosa é a melhor maneira de alienar parceiros chave, como a Ucrânia já demonstrou e a Turquia pode confirmar em breve.
Gabriele Crescente