Caros búlgaros e romenos, parabéns, estão a ser avaliados

A rejeição do pedido de adesão de Bucareste e Sofia ao espaço Schengen, por causa do veto dos Holanda, deveria ser motivo de regozijo para os habitantes dos dois países. De facto, estima o De Volkskrant, foi uma coisa que os vai encorajar a lutar mais contra a corrupção e o crime organizado.

Publicado em 22 Setembro 2011 às 15:39

É raro romenos e búlgaros receberem boas notícias. No entanto, a 22 de setembro, isso aconteceu. O Conselho de Ministros da União Europeia decidiu adiar, sem marcar data, a entrada da Roménia e da Bulgária na zona Schengen de livre circulação de pessoas.

Em Bucareste e em Sofia, esta decisão vai dar azo certamente a algumas objeções: depois da adesão dos dois países à UE, em 2007, o alargamento da zona Schengen é um objetivo prioritário. A decisão, dos Holanda, de vetarem (com o apoio da Finlândia) a eliminação dos controlos fronteiriços com a Bulgária e a Roménia, não foi muito bem recebida.

Foi possível tomar esta medida na fronteira romena. Desde 17 de setembro que vários camiões de tulipas holandesas ficaram bloqueados. Segundo a alfândega, podem conter uma bactéria perigosa. Alguns veículos pesados já foram reenviados para trás. É provável que as reações não se fiquem por esta “guerra das flores”: o ministro búlgaro dos Negócios Estrangeiros já anunciou represálias.

Não se sabe se búlgaros e romenos vão concentrar-se nos protestos contra os respetivos governos. Uma sondagem recente revela que não veem grande inconveniente no veto neerlandês. Um búlgaro em cada três compreende a justificação do adiamento da entrada no espaço Schengen, mesmo que a Bulgária já satisfaça as condições de acesso. Compreendem o raciocínio dos Holanda, que argumentam que Sofia e Bucareste têm de registar primeiro progressos na luta contra a corrpção e o crime organizado.

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Haia responsável por tarefas domésticas em Bruxelas

Não é a primeira vez que Haia assume uma tarefa ingrata em Bruxelas em vez de outros Estados-membros. Os Holanda já bloquearam a adesão da Sérvia à UE, porque Belgrado se recusou a colaborar na detenção de criminosos de guerra. Sabemos que estas pressões permitiram, nestes últimos anos, a captura de todos os que eram procurados.

No caso da Roménia e da Bulgária, os resultados não serão necessariamente piores. Mas é agora ou nunca que é preciso intervir. Assim que os dois Estados-membros mais pobres da UE ganharem a batalha, deixarão de dar ouvidos a Bruxelas.

Para todos os que se preocupam com a situação dos búlgaros e dos romenos, o veto neerlandês é forçosamente uma boa notícia. Tenho a certeza de que, na Bulgária e na Roménia, o controlo de fronteiras é menos assustador do que a corrupção e o crime organizado.

Há uns anos, Lidya Pavlova, jornalista búlgara, recebeu o prémio Courage in Journalism porque se atreveu a escrever sobre os mafiosos da sua cidade. Uma atitude que pagou cara. Ficou com o carro destruído e o filho foi atingido gravemente e foi parar duas vezes ao hospital.

Muitas coisas mudaram desde então. O calvário desta jornalista durou vários anos, mas os dois chefes da máfia local acabaram por ser presos, mesmo que a cidade ainda não seja completamente segura. Quando a tentei entrevistar, há um mês, Lidya Pavlova arranjou uma desculpa. “Não quero ter problemas”, respondeu. “Já me partiram doze vezes os vidros do carro.” E assim como Lidya Pavlova se preocupa com os vidros do carro, também eu sou a favor da manutenção do controlo de fronteiras.

Reações de Bucareste

Preteridos e felizes

A acreditar nas respostas às duas perguntas feitas pelos diários romenos Adevărul e Evenimentul Zilei, nos seus sítios na Internet, 73% dos leitores consideram que o seu país não está preparado para aderir ao espaço Schengen, 85% aprovam o veto da Holanda à entrada da Roménia na zona de livre circulação. "Poderia ter sido evitado o fracasso de Schengen?" pergunta o România liberă. O diário considera que "a diplomacia romena poderia ter antecipado o ressurgimento do nacionalismo na Europa, que motivou o veto da Holanda e da Finlândia, e agir em conformidade".

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