Comício da oposição em Minsk, 19 de dezembro de 2010

Derrubem Lukashenko, não o seu povo!

O Presidente bielorrusso deverá cumprir o seu quarto mandato, na sequência de novas eleições manipuladas. Ainda assim, o Ocidente não deveria virar as costas a este vizinho de Leste, defende o Rzeczpospolita.

Publicado em 20 Dezembro 2010 às 19:19
Comício da oposição em Minsk, 19 de dezembro de 2010

Mais uma vez, as eleições presidenciais na Bielorrússia tornaram-se um problema para o Ocidente. O espancamento, pela polícia, de rivais do candidato à reeleição, maus-tratos a manifestantes antigovernamentais e a dirigentes da oposição – são fatores que em nada contribuem para encorajar uma abertura em relação à Bielorrússia de Lukashenko. Pelo contrário: parece tratar-se de um regresso aos terríveis tempos em que Alexander Lukashenko era classificado como o "último ditador da Europa".

Os resultados da consulta de domingo (79,67% dos votos para o candidato à reeleição) estão a ser postos em causa em Minsk e fontes da oposição estimam que a votação em Lukashenko se situará em metade da que lhe é atribuída pela sondagem à boca das urnas encomendada pelo Governo. Assim, qual deverá ser a nossa reação aos resultados oficiais?

Deveremos voltar a impor sanções ao regime bielorrusso, voltar a proibir os seus funcionários de visitar o Ocidente, excluir Lukashenko dos encontros amigáveis com Berlusconi? É mais fácil dizer qual deveria ser a nossa reação ao espancamento do candidato da oposição Vladimir Neklyayev: duras críticas e indignação.

Contudo, não deveríamos tomar decisões apressadas e emocionais. Não estou a sugerir que devamos fingir que nada aconteceu. Aconteceu muita coisa e devemos dizer isso alto e bom som. Têm de ser pedidas explicações sobre a contagem dos votos e sobre os ataques da polícia aos líderes da oposição.

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A Bielorrússia nem sempre é um parceiro fácil

No entanto, o Ocidente não deve vacilar entre sanções e promessas, entre ameaçar o regime com um pau, num dia, e oferecer-lhe a cenoura, noutro dia. Aqueles que, antes das eleições, ofereceram um molho de cenouras estavam realmente à espera de que as regras democráticas fossem respeitadas? Esperavam, por exemplo, que a mentalidade dos responsáveis pelo escrutínio mudasse de um dia para o outro?

A Bielorrússia não é o único país a leste da UE onde os resultados eleitorais deixam, para dizer o mínimo, margem para dúvidas. E o Ocidente não vê nada de mal em ter conversações com outros dirigentes regionais e em negociar com eles. Há um certo país a leste da UE chamado Rússia, onde a polícia ataca uma senhora de 82 anos e isso não causa a deterioração das relações com o Ocidente.

Lukashenko tem muitos pecados na consciência e, um dia, talvez o seu próprio povo o obrigue a responder por eles. Mas a Bielorrússia reforçou a sua soberania sob o reinado de Lukashenko. Não se trata de um parceiro fácil para ninguém. E isso não vai mudar.

O Ocidente deveria ponderar seriamente se deve voltar as costas a Lukashenko. E não deve, de modo algum, voltar as costas aos bielorrussos. A Bielorrússia ainda não está irremediavelmente perdida para o mundo ocidental.

Visto de Moscovo

Obrigado à Europa e à Rússia

A principal vitória de Alexander Lukashenko foi arrancada no terreno da política externa”, comenta a Gazeta.ru. E acrescenta: “No entanto, ainda há 3 ou 4 meses, teria sido difícil esperar muito”: “O Ocidente pedia-lhe que liberalizasse a política interna e a Rússia minava-lhe a economia”. Mas, “em vez de receber uma chuva de ameaças, a Bielorrússia foi alvo de uma corte intensa”, diz o jornal digital russo. “Os responsáveis europeus chegaram a Minsk com ofertas de cooperação, depois a Rússia retomou o fornecimento de petróleo livre de impostos, em troca do acordo bielorrusso para a criação de um Espaço Económico unificado. Do lado europeu, foram mencionadas ajudas financeiras no valor de três mil milhões de euros, do lado russo, o custo da medida foi avaliado em dois mil milhões de dólares por ano.” “A demonstração feita por Lukashenko de que seria capaz de obrigar o Kremlin a encontrar meios para recuperar o seu ‘aliado estratégico’”, sublinha a Gazeta.ru. “A situação da Europa é muito mais simples. Precisa mais de um processo do que de um resultado, coisa que pode obter com Lukashenko à cabeça do Estado e que, aliás, já está a produzir-se."

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