Estou-me nas tintas!

O seu interlocutor conta-lhe uma grande história, que não lhe interessa absolutamente para nada? Eis algumas expressões europeias para lho comunicar.

Publicado em 12 Outubro 2009 às 09:38

Os franceses cortam cerce a banalidade de um monólogo com outra banalidade. Frutado, no tom e na forma, um "Et moi j’ai mangé une pomme ce matin" [Pois eu comi uma maçã esta manhã] deve fechar rapidamente uma matraca demasiado faladora. Os alemães, por seu lado, metem sempre uma salsicha ao barulho: "Das ist mir Wurst" [para mim isso é uma salsicha"). Na Internet, certos fóruns atribuem esta expressão a Bismarck que, numa discussão sobre o título que convinha atribuir-lhe, teria atirado para o ar: "Alguém me pode dizer como se diz salsicha em latim?" Em Portugal, e sem preocupações de origem, parece preferir-se uma bebidinha: “Isso para mim é igual ao litro”.

Ainda os alemães, pelos vistos muito versados na arte de calar gente desinteressante: "Das ist doch Jacke wie Hose" [isso, para mim, é um casaco ou umas calças]. Não era mais fácil um “isso não me diz nada” ou “que se lixe, quero lá saber disso”? Não, têm até, para um registo mais erudito, "Das tangiert mich peripher" – “isso a mim passa-me ao lado”, mas com palavras mais caras.

Os franceses são menos intelectuais: "Ça ne lui rendra pas la jambe bien faite" [isso não lhe torna a perna bem feita], diziam outrora, numa referência às patas do galo, que simbolizam o orgulho. Hoje, para ir direito ao assunto, a expressão foi encurtada: "Ça me fait une belle jambe!" [isso faz-me uma bonita perna]. Realmente, porque não o sarcástico: “é, isso muda tudo”?

Quando a voz aguda do seu interlocutor impede o gozo dos preciosos últimos minutos de sono no autocarro, os polacos soltam rapidamente algumas ideias negras: "wisi mi to" (essa leva-me à forca], pensam em voz alta.

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Mas os nervos podem incitar a frases mais ordinárias. Os franceses "s’en branlent" [à letra, vêm-se com essa conversa]. Para os alemães, "das geht mir am Arsch vorbei", ou seja, passa-lhes ao lado… do cu. Os polacos recebem a conversa "mam to w dupie", em cheio no cu ou tornam-se pró-activos e mandam um "olewam to" ou "leję na to", equivalente urinário ao nosso “vai-te cagar”. Os ingleses aceitam a orientação portuguesa e “I dont give a shit” [não dou uma merda por isso].

Uma reminiscência musical, para fazer subir um pouco o nível desta conversa: “meu caro, estou a marimbar-me para a questão”, assim, directo em português.

Está agora em condições de decidir se prefere ser refinado ou ser seco e directo, de acordo com o humor, o estado do tempo e a entoação… Quanto a mim, estou-me nas tintas!Caroline Venaille

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