Geert Wilders, Declan Ganley et Jean-Marie Le Pen. Fotos: Fabien Dany; AFP; Thehurrican007

Eurocépticos para todos os gostos

Extremistas ou antiliberais, os partidos que se opõem ao Tratado de Lisboa poderão ser os grandes beneficiários do escrutínio. A imprensa europeia interroga-se, entretanto, sobre qual será o seu peso político no Parlamento.

Publicado em 5 Junho 2009 às 20:57
Geert Wilders, Declan Ganley et Jean-Marie Le Pen. Fotos: Fabien Dany; AFP; Thehurrican007

A fazer fé nas últimas sondagens e nos primeiros resultados das eleições nos Países Baixos, haverá mais eurocépticos no próximo Parlamento.

O anúncio da aliança entre o Partido Conservador britânico, os polacos do Direito e Justiça e os checos do ODS causou suores frios entre os partidários do Tratado de Lisboa, salienta o diário polaco Dziennik. Porque o grupo integrado por estas três organizações poderá tornar-se a segunda força política no Parlamento, à qual haverá a juntar outro agrupamento eurocéptico dirigido por Jean-Marie Le Pen e pelo neerlandês Geert Wilders.

Se os eurocépticos conseguirem votos suficiente, adverte o Dziennik, a União Europeia será obrigada a pôr em banho-maria os seus projectos de diplomacia comum, de um Presidente e um ministro dos Negócios Estrangeiros.

Nem todos os eurocépticos são extremistas. Mas estes últimos poderão ser os grandes beneficiários do escrutínio europeu. Pelo menos doze partidos de extrema-direita poderão conseguir uma representação em Bruxelas e Estrasburgo, sublinha o Die Zeit. “A extrema-direita mantém uma rede forte na Europa”, recorda este semanário alemão, e os partidos tradicionais não têm uma estratégia para lhe fazer face. “Em muitos casos, os partidos democráticos não os marginalizam pois debatem com eles e toleram-nos com um sorriso frio”, observa a politóloga Britta Schellenberg. Estes partidos “funcionam a um nível demasiado local, em vez de raciocinarem em termos europeus”.

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A direita não tem o monopólio do eurocepticismo, salienta Le Figaro, que faz notar que, em França, o Novo Partido Anticapitalista e a Frente da Esquerda “rejeitam a Europa federal, a pretexto de que esta é também ‘liberal’”. Dito isto, apesar de grande – segundo as estimativas, reunirá cerca de 180 deputados europeus, num total de 736 – a "nebulosa pró-soberania" continua a ser heterogénea e deverá continuar a sê-lo, depois das eleições. Na Polónia, por exemplo, o que haverá de comum entre Lech Walesa e a Liga das Famílias Polacas, duas formações que fazem campanha sob a bandeira do Libertas? Ou entre os antigos “nonistes” [partidários do não] do Partido Socialista francês e os movimentos escandinavos “de Junho”, que defendem a retirada da Dinamarca e da Suécia da União Europeia? “Para além da rejeição da UE e do seu apelo à construção de uma nova Europa, esses partidos são incapazes de construir um movimento coerente e de elaborar propostas positivas”, considera este diário conservador.

Mas porque progridem esses partidos? No Spiked, o sociólogo Frank Furedi explica que, ao concentrar-se na extrema-direita, a classe política europeia está apenas a denunciar a sua falta de “legitimidade política”. Incapaz de inspirar “a adesão geral” a um projecto europeu que “tem falta de conteúdo”, semeia o pânico, ao aludir frequentemente a uma “instabilidade económica comparável à dos anos 30” e à “ascensão do fascismo”.

Exagerar a ameaça dos grupos marginais, alargar o sentido do termo “extremista”, incluir no grupo dos eurocépticos partidos que não são necessariamente anti-europeus, só serve para impedir o debate, garante Furedi. É certo que insistir nessa “moralidade negativa” terá por efeito criar “uma certa unidade em torno de uma elite europeia desligada das realidade” mas envolve sobretudo o risco de reforçar o cinismo do eleitorado relativamente à vida política.

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