"Sim, podemos construir a Europa, uma Europa forte, mas apenas se respeitarmos os princípios da democracia, cuja base é a vontade do povo." O Parlamento alemão deixará de ser uma câmara de ressonância das decisões de Bruxelas, congratula-se este diário, para o qual esta decisão não representa um travão no processo de integração, sendo antes *“um terreno fértil para a democracia”.*
Na sequência de diligências de deputados alemães, tanto pró-europeus como eurocépticos, o Tribunal Constitucional de Karlsruhe aprovou o tratado de Lisboa considerando-o “compatível” com a constituição alemã. No entanto, os juízes suspenderam o processo de ratificação até que seja feita uma revisão da lei de acompanhamento que, em seu entender, não salvaguarda adequadamente as competências do parlamento alemão. “É uma decisão ‘Yes we can’”, comenta a Süddeutsche Zeitung: "
“Sim, podemos construir a Europa, uma Europa forte, mas apenas se respeitarmos os princípios da democracia, cuja base é a vontade do povo.” O Parlamento alemão deixará de ser uma câmara de ressonância das decisões de Bruxelas, congratula-se este diário, para o qual esta decisão não representa um travão no processo de integração, sendo antes “um terreno fértil para a democracia”.
O Tageszeitungreceia que a decisão estabeleça um precedente incómodo. Para este diário de esquerda, a decisão do Tribunal “insere-se no clima nacionalista que presentemente se vive noutros estados-membros. O verdadeiro perigo reside na possibilidade de os tribunais constitucionais dos outros 26 países seguirem o exemplo de Karlsruhe e de cada um deles se arvorar em guardião-mor da UE. Areia a mais nas engrenagens pode fazer parar até um veículo robusto como a UE.”
Vista da Polónia e de Espanha, a decisão é uma má notícia para a Europa. “Como poderá Angela Merkel exercer pressão sobre os irlandeses e exortar Vaclav Klaus e Lech Kaczynski a assinarem o Tratado?”, pergunta o politólogo Cornelius Ochmann no Gazeta Wyborcza. *"*Os alemães decidiram que a sua nação era mais importante do que Bruxelas", escreve por seu turno o Polska, para o qual esta decisão constitui um travão à “ideia de uma nova superpotência federal”. “A única coisa que resta [da constituição europeia] é um guia do utilizador para os tecnocratas europeus. Não é de espantar que o Tratado tenha sido rejeitado tantas vezes. E, agora, vê o seu destino travado pelos juristas do maior país da Europa.”
“A Alemanha demonstrou que já não era a locomotiva da Europa mas um país normal, que aceita com relutância as novas etapas (…) do projecto comunitário”, considera por seu turno o ABC. Este jornal de Madrid também receia que a sentença possa “dar novo fôlego aos eurocépticos dos países que ainda não ratificaram o Tratado de Lisboa: a Polónia, a República Checa e a Irlanda. Na Grã-Bretanha, David Cameron deve estar a esfregar as mãos de contente: com efeito, o líder conservador tem a firme intenção de, se for eleito, convocar um referendo sobre o Tratado.”
“O Tribunal Constitucional alemão afirmou o carácter central do Parlamento nacional”, salienta, por último o Corriere della Sera, de Milão. *“*Em questões como a defesa, o exército, a fiscalidade, o direito laboral, a família e o direito penal, o Bundestag e o Bundesrat deverão estar no centro do processo de decisão europeu, mesmo depois da ratificação do Tratado de Lisboa, e o Governo deverá consultar o Parlamento sobre as questões discutidas no seio do Conselho Europeu. A orientação da Alemanha é clara: a Europa não é uma união federal mas uma aliança entre nações.”