O líder do Partido para a Liberdade é candidato ao lugar de primeiro-ministro. Foto: AFP

O inevitável Geert Wilders

As eleições municipais de 3 de Março ficaram marcadas pela estreia do Partido para a Liberdade. O escrutínio constituiu um teste para as legislativas de 9 de Junho, altura em que o líder islamofóbico e populista espera tirar dividendos do seu sucesso. Resta saber como é que o sistema holandês, baseado no consenso, vai absorver o choque.

Publicado em 4 Março 2010 às 15:48
O líder do Partido para a Liberdade é candidato ao lugar de primeiro-ministro. Foto: AFP

Em Almere e em Haia, o resultado das eleições municipais de 3 de Março foi uma convulsão política. Nas duas cidades em que concorreu, o PVV (Partido para a Liberdade) do populista Geert Wilders, que se apresentou pela primeira vez ao eleitorado neste tipo de escrutínio, afirmou-se, de repente, como um novo actor inevitável: em Almere, é o primeiro partido, em Haia, o segundo. De facto, este resultado já era esperado mas, agora, altera os dados da política holandesa.

Até aqui, o PVV apresentou-se como um partido que multiplicava as declarações tonitruantes, mas que se interessava pouco pela responsabilidade administrativa. Muitas das suas propostas, como proibir ou taxar o uso de véu, são irrealizáveis na Holanda. Mas agora que o partido tem a possibilidade de participar no governo das duas cidades, a grande questão é saber se o PVV se vai manter afastado ou se assume as suas responsabilidades no seio do actual sistema político. Se sim, o PVV vai ter de encarar questões tão rebarbativas como o cumprimento das políticas anunciadas e terá de fazer escolhas pragmáticas. À medida que um partido vai ganhando importância a sua credibilidade é, irremediavelmente, posta à prova.

Diz-se, frequentemente, que o PVV cria uma realidade que não existe mas, para os eleitores, o partido denuncia uma realidade que, manifestamente, rejeitam. Almere não tem muitos muçulmanos entre os seus habitantes, o que, no entanto, não impediu os eleitores de votarem num partido islamofóbico. Aparentemente, imaginam um futuro sombrio ou semelhante ao que conheceram antes de se mudarem para esta nova cidade. Wilders foi muitas vezes criticado pela sua estratégia de, nas eleições municipais, concorrer apenas em duas cidades. Uma escolha que não é corajosa, mas que é aceite pelos seus apoiantes. A maioria dos outros partidos também não concorre nas cidades todas. Em Roterdão, Wilders aconselhou os seus partidários a votarem no partido populista Leefbaar Rotterdam, que registou uma subida e que já no passado provou que não recua perante as responsabilidades de governação.

Após o sucesso alcançado nas eleições para o Parlamento Europeu, em Junho passado, e nas eleições locais de 3 de Março, a questão que vai dominar as eleições nacionais de 9 de Junho é esta: qual vai ser a importância do PVV? Nas eleições municipais, o comportamento dos eleitores varia, frequentemente, em comparação com as eleições legislativas. A participação, de facto, foi baixa (56%) e a voz deste protesto não se fará ouvir em pleno, provavelmente, senão a 9 de Junho. Mais do que o tamanho do PVV, o que está em causa é a flexibilidade do sistema político holandês: com a sua tradição de Governos de coligação, como é que o país vai lidar com o PVV que agora representa o terceiro lugar, mas pode vir a ser o primeiro? A única resposta possível é como é que o vamos fazer, porque não temos um sistema melhor.

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