"Eu não esqueço!"

O pior ainda está para vir

Seis meses depois de a crise bancária ter quase destruído a sua economia, o Chipre continua em apuros. Debilitado pela restrição das condições de crédito e pela austeridade imposta pela troika, a economia está em ponto morto e surgem dificuldades.

Publicado em 24 Setembro 2013 às 11:32
"Eu não esqueço!"

Já não há nem manifestações diárias no centro de Nicósia, nem caixas de multibanco com filas, nem directos da BBC e da CNN à porta do Parlamento. No entanto, a verdade é que, para quem vive em Chipre, as condições de vida são agora bem piores do que há seis meses, no auge da crise. E, temem muitos cipriotas, o pior ainda pode estar para vir.

Desde que, a 15 de Março, o Presidente de Chipre e o Eurogrupo anunciaram a intenção de aplicar um imposto sobre todos os depósitos, desencadeando uma crise que incluiu primeiro o encerramento dos bancos por duas semanas e depois a criação de limites aos movimentos de capital, os desenvolvimentos na economia e sociedade cipriota passaram a ser previsíveis: sistema bancário debilitado, austeridade imposta pela troika, contracção acentuada da economia e desemprego a disparar.

E, assim, seguindo o percurso já conhecido na Grécia ou em Portugal, Chipre, um pequeno país habituado nas últimas décadas a um nível de vida elevado sem crises graves nem grandes sinais de pobreza, vai agora começando a conhecer outra realidade. "As pessoas têm vindo a ser afectadas a diversos níveis, dos mais ricos aos mais pobres. Ao nível mais baixo, há dificuldades e desespero como eu não via e sentia desde a invasão turca de 1974", diz Dinos Papakyprianou, um pequeno empresário que trabalha na importação de equipamentos do estrangeiro.

Há seis meses, o Público encontrou Dinos nas ruas de Nicósia, revoltado e angustiado à espera que os bancos abrissem para poder fazer face aos compromissos da sua empresa. Agora, numa conversa telefónica, mostra estar mais resignado, mas ao mesmo tempo mais pessimista, antecipando cenários em que as coisas ficam ainda pior. "Optei por reduzir os meus negócios, e portanto a minha exposição financeira, ao mínimo. Por uma simples razão: assim, quando o outro sapato cair, já não me arrisco a ficar sem nada daquilo que fui conseguindo ao longo de 32 anos de trabalho. Prefiro ficar agora à espera que uma nova crise como a de há seis meses ocorra e depois logo decido o que faço", explica.

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