O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia

Frases difíceis de pronunciar e que frequentemente não fazem nenhum sentido… Volta à Europa pelos delirante “tongue twisters”, “ vire-langues” ou trava-línguas que nos ajudam a rir neste continente.

Publicado em 17 Julho 2009 às 15:19

O Verão está a chegar e é necessário preparar-se. A aparência tem razões que a razão desconhece. Que diria então de uma pequena ensaboadela, para o/a pôr em forma? Não me refiro apenas à cintura ou aos músculos das nádegas. Na verdade, de que serve exibir uma silhueta escultural apolínea ou o contorno elástico de uma Afrodite saída das ondas, praticamente descascada, se, perante os piropos que lhe dirigem, não souber responder com toda a eloquência de um Demóstenes cheio de segurança?

É, pois, chegado o momento de afinar a dicção. A exemplo do imortal orador ateniense, não precisa de encher a boca de seixos antes de anunciar que: “A história é uma sucessão de sucessos sucessivos que se sucedem sucessivamente sem cessar.” À laia de ginástica glossolabial, nada melhor que uma pequena revisão dessas tão lúdicas locuções chamadas “trava-línguas”, que deleitam a criançada, permanecendo secretamente dentro de nós, e em que todas as línguas do mundo abundam. As da Europa não são menos do que as outras. Tente!

À partida, é claro, deita alguns perdigotos e tropeça nas palavras; mas é um exercício garantidamente de fraca exigência calórica. Veja-se o inglês, em que não é qualquer um que não fica hesitante entre chupa-chupas vermelhos e amarelos: “Red lolly, yellow lolly, redlollyyellowlolly”. Os gulosos franceses gostam de ir à raiz das coisas (doces), como a “Kiki la cocotte convoitant Coco le coquet concasseur de cacao caraco kaki à col de caracul” [a galinha Kiki inveja o vaidoso Coco, triturador de cacau, de casaca caqui com gola de caraculo]. Mais útil é este pedido em espanhol, refrescante e natural: “Compadre, cómprame un coco. Compadre, coco no compro que el que poco coco come, poco coco compra. ” [Compadre, compra-me um coco. Compadre, coco não compro que quem pouco coco come, pouco coco compra.]

Já um polaco, como um tal Jerzy, não se engasga ao ver que "na torre não habitam 100 ouriços-caixeiros e muito menos 50porcos-espinhos”: “Idzie Jerzy i nie wierzy, że na wież jest sto jeży i pięćdziesiąt jeżozwierz”. Se calhar podia ter-se informado por outra via, como o amigo do Mário Moura: "Mário Moura foi a Mora com intenções de vir embora, mas distraiu-se na apanha da amora. Estranha a demora um amigo de fora: - Então agora o Moura mora em Mora? – Não é de agora: o Moura adora Mora e é lá que mora agora". Claro que podia ficar confundido com a resposta e resolver não arriscar, não fosse sair-lhe uma resposta… intemporal: "o tempo pergunta ao Tempo quanto tempo o tempo tem; o Tempo responde ao tempo que o tempo tem todo o tempo que o Tempo tem".

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Na província do Alto Adige, os italianos preferem exercitar-se a recensear os nativos que passam com passo arrastado: “Trentratré Trentini entrarono a Trento tutti e trentaré, trottellerando” (algo como trinta e três toscos trôpegos a tentar tirar os tamancos para tocar a trote e entrar em Trento antes da tarde terminar]. Já em Berlim, é necessário ser ousado e lançar-se na confusão, arriscando-se a ser apanhado numa rixa com os distribuidores de correio de Postdam – sempre sem perder a tramontana, claro: “Postdamer boxclub boxt der Postdamer Postbusboss” [do clube de boxe de Postdam sai um soco que acerta no responsável da carrinha dos correios de Postdam].

Assim preparado/a, exalando talento, capaz de dominar línguas aguerridas, poderá finalmente exercer em pleno o seu “charme”, entrando a matar e não apenas no bar da praia: “Which wristwatch is a Swiss wristwatch? ” (que é como quem diz: esses swatchs são suíços ou só se sabe se são suíços os que separaram sem se saber?). Curiosidade que o seu interlocutor remeterá provavelmente para outra pergunta existencial, mas igualmente determinante: “Um ninho de carrapatos, cheio de carrapatinhos, qual o bom carrapateador, que o descarrapateará?”

Não insista, antes de ter de passar pela vergonha de dizer: “Fui ao mar colher cordões, vim do mar cordões colhi”...

Anke Wagner-Wolff

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