O futuro da Europa

“Para onde a Bélgica vai, a Europa vai atrás”

Publicado em 18 Julho 2014 às 14:15

“Se querem saber como a UE estará dentro de cinco anos, vejam como a Bélgica está nos dias de hoje”, escreve o antigo eurodeputado belga Derk Jan Eppink no De Volkskrant. Tanto a Bélgica como a Europa, são “locais de construção permanente, em que os telhados são reconstruídos para esconder os problemas que residem nas fundações”, ambas tiveram resultados similares nas eleições de 25 de maio (na Bélgica, as eleições legislativas ocorreram no mesmo dia que as eleições europeias na maioria dos países membros) e também partilham o mesmo problema fundamental: um fosso entre o Norte e o Sul.

A formação de um Governo belga nunca foi uma tarefa fácil (depois das eleições de 2010, foram necessários 541 dias de negociação), mas desta vez foi ainda mais difícil: em Flandres, os eleitores votaram pelo partido nacionalista N-VA e, na Valónia, os eleitores “orientaram-se para a esquerda: o partido socialista no poder perdeu muitos votos a favor do partido comunista local. Portanto, os flamengos votaram maioritariamente à direita e os valões à esquerda”. Eppink questiona-se se a formação de um Governo belga será possível depois daqueles resultados.

As eleições para o Parlamento Europeu mostram uma situação semelhante: “Na Europa mediterrânea foi a esquerda que venceu enquanto no Norte foi a direita”. Eppink acredita que estes resultados complicarão a distribuição dos cargos superiores da Europa: “A UE dirige-se neste momento para uma conferência intergovernamental para debater renovações institucionais ‘à belga’”.

O antigo eurodeputado pensa que o problema da UE e da Bélgica reside nas fundações do desenvolvimento socioeconómico. Ambas têm de lidar com um fosso cada vez maior entre o Norte e o Sul. “O Norte acredita que o Sul deveria acelerar as reformas estruturais, enquanto o Sul acredita que o Norte é egoísta e antissocial. Esta situação provocou a polarização da sociedade na Bélgica durante várias décadas e o mesmo tem vindo a acontecer na UE.”

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Os políticos europeus e belgas podem esconder-se “atrás da sua linha de Maginot para se defenderem do resto do mundo”, tal como fizeram quando o N-VA foi mantido fora do Governo federal por outros partidos, mas isto tende a provocar o efeito oposto: Bart De Wever, líder do N-VA, foi o vencedor das últimas eleições legislativas. O mesmo aconteceu no Parlamento Europeu: em 2009, cerca de um quinto dos parlamentares eram eurocéticos, mas os “grupos políticos estabelecidos ignoraram os críticos”. Neste momento, um terço do Parlamento Europeu tem opiniões que vão desde “críticas a oposições extremas à UE”.

Eppink recomenda à UE que analise com atenção o que se passa na Bélgica:

Para onde a Bélgica vai, a Europa vai atrás. Se a UE continuar a seguir os passos da Bélgica, as consequências serão globais. Os europolíticos deveriam analisar com mais atenção a fraca formação do Governo belga.

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