Bom fim-de-semana! Painel de partidas com inúmeros voos cancelados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, a 17.04.2010

Quando a máquina diz "não"

A suspensão do tráfego aéreo na Europa, desde 15 de Abril, não foi decidida com base na observação das nuvens vulcânicas vindas da Islândia, mas em simulações informáticas. Confrontado com um fenómeno natural, o ser humano parece abdicar das suas responsabilidades e preferir a técnica, inquieta-se o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Publicado em 19 Abril 2010 às 15:48
Bom fim-de-semana! Painel de partidas com inúmeros voos cancelados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, a 17.04.2010

Klaus Walher, porta-voz da companhia aérea Lufthansa, é um homem da técnica. Há que ouvi-lo quando, face ao vazio do céu europeu, deplora a falta de intuição e bom senso. Tudo o que Walther quer é voar. E, no entanto, as suas declarações contra a interdição de circulação dos aviões são um marco na crítica da tecnologia, na era informática recém-nascida, e um capítulo da história de uma sociedade moderna que se priva do seu poder ao criar modelos.

[…] **Este artigo foi retirado a pedido do proprietário dos direitos de autor.**

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Natureza vs. modernidade

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"É costume dar-se um nome aos tornados e ciclones que devastam regularmente a região das Caraíbas: Niño ou Katrina. A nuvem islandesa merecia ser chamada Húbris", escreve Jean d’Ormesson, no diárioLe Figaro. "Os gregos da Antiguidade chamavam húbris ao orgulho que se apodera dos homens exaltados e cujas consequências acabaram por ir dar a um dos principais laços da malha tecnológica que veste e torna vítima de si mesmo o mundo de hoje: o transporte aéreo." Para este escritor francês, "a nuvem Húbris ensina-nos com dureza aquilo que tínhamos esquecido: a Natureza é violenta e os homens, que se julgam donos e senhores deste mundo, não podem ter certezas. Imaginam que o dominaram e domesticaram. A Natureza faz-se recordar com os seus melhores cumprimentos, atingindo-os com ironia, mas sem demasiada crueldade, não no seu ponto fraco mas mesmo no centro do seu império e das suas ambições".

"Temos de reconhecer que esta manifestação do inferno não surge sem razão mas antes por causa de coisas que não controlamos", considera o escritor romeno Adrian Păunescu, noJurnalul Naţional. "As anomalias e as agitações da Terra caem sobre nós, por todo o lado, do Haiti à China, da Grécia, e provocam cada vez mais a sensação de que algures, a um nível de decisão planetário, não se quer que as pessoas saibam a terrível verdade: chegámos a um grau elevado de perigo para o planeta (…). Estávamos muito orgulhosos da nossa condição humana, éramos muito arrogantes! O capitalismo, o socialismo, o futurismo – tudo isso se tornou obsoleto."

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