Paisagem nos arredores de Česky Krumlov, no sul da Boémia. Imagem: J & M Funderburk

Terra arável em bom preço!

Os terrenos agrícolas são muito mais baratos na República Checa do que no resto da Europa. A partir de agora - e no máximo até 2011 - a sua venda será autorizada aos cidadãos não checos. Será que vai haver uma invasão de agricultores ricos do resto da UE?

Publicado em 6 Julho 2009 às 17:23
Paisagem nos arredores de Česky Krumlov, no sul da Boémia. Imagem: J & M Funderburk

Há vinte anos, Everdingen não precisou de muito tempo para se decidir. No seu país natal, os Países Baixos, tinha uma quinta biológica com criação de gado. Desejava expandir-se. Mas num país com uma densidade populacional tão elevada, isso colocava alguns problemas. Viu na queda da Cortina de Ferro uma possibilidade de realizar o seu projecto e decidiu, por conseguinte, ir procurar um lugar para os lados dos antigos países comunistas. Acabou por se instalar na República Checa, em Zebráky na Tachovsku, no oeste do país, onde comprou uma exploração agrícola que não interessava a ninguém nos arredores.

“Encontrámos aqui condições excelentes para a nossa exploração”, explica Everdingen, que, após ter trabalhado vinte anos na República Checa, domina bastante bem a língua local. A sua exploração agrícola valoriza a terra e os vizinhos checos deste “agricultor estrangeiro que vive em solo checo” consideram-no como um dos seus.

Everdingen possui uma parte do terreno que ocupa e aluga o resto. “Mas tem-se mais segurança, sendo proprietário”, afirma. “Quando se compra um terreno, é mais garantido que se possa conservar os investimentos realizados”. Em 2011, quando for abolida a proibição temporária de compra de terrenos na República Checa a cidadãos europeus não checos, poderá verdadeiramente obter essa “garantia de propriedade”. Os habitantes, esses, continuam na expectativa quanto ao que poderá significar esta revolução para a sua paisagem.

Na Europa, a compra de terrenos por estrangeiros não é específica da República Checa. Nos últimos anos, por exemplo, os britânicos endinheirados tomaram-se de amores pelas explorações agrícolas abandonadas na Normandia, no norte de França. Compraram muitas delas e lançaram-se na sua exploração. Mas quanto aos terrenos checos, é hoje difícil avaliar o grau de interesse que poderão suscitar. De resto, não existe nenhum registo oficial que contabilize os estrangeiros que exploram actualmente terrenos no país – seja em regime de aluguer ou como proprietários, através de um testa-de-ferro.

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Além disso, a compra de um terreno na República Checa é frequentemente complicada pela dificuldade de identificação do seu proprietário. É um dos resultados da herança do sistema comunista das cooperativas agrícolas, que, até agora, o Estado não conseguiu resolver. A confiscação em massa de propriedades privadas aos agricultores, nos anos 1950, seguido da sua integração em cooperativas agrícolas, faz com que seja hoje extremamente complexo saber a quem pertencia cada parcela de terreno.

O programa de redistribuição das terras actualmente em curso deve racionalizar a situação a nível dos campos. E deverá facilitar a compra de terrenos checos. Porque o interesse dos estrangeiros nesses terrenos é bem real. Quanto mais não seja porque são claramente menos caros do que em qualquer outro lugar da Europa. Enquanto o hectare custa, por exemplo, em média 36.000 euros na Holanda, custa apenas 2.520 euros na República Checa. Esta realidade alimenta o temor de que “uma vez levantada a proibição para os estrangeiros adquirirem terrenos agrícolas na República Checa, em 2011, ricos empresários vindos de todos os cantos da Europa comprem terrenos checos em larga escala”.

Mas de acordo com os peritos, tal temor não é justificado. “Não há riscos reais. O interesse será certamente maior, mas não será desmedido”, considera o analista agrícola Petr Havel. Além disso, nota, “ao virem para cá, os estrangeiros trazem os seus conhecimentos, as suas técnicas. Podem, assim, vir a relançar a agricultura checa.” Segundo Jaroslav Sebek, da Associação da Agricultura Privada da República Checa, são os neerlandeses e os italianos quem se mostra interessado. Começaram já conversações com alguns agricultores estrangeiros instalados na República Checa sobre a possibilidade que se tornarem membros da Associação. Com efeito, considera Sebek, “o único verdadeiro obstáculo hoje é a barreira da língua. Mas com o tempo, isso deve deixar de ser um problema”.

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