Este luxuoso centro comercial Centro, situado na periferia de Oberhausen, não aparenta qualquer sinal de pobreza. Mas de acordo com Gabriele Daume, uma cliente elegante com um colar de pérolas, a totalidade do dinheiro vai para Leste, a antiga RDA, enquanto o Oeste empobrece.
Segundo esta, o Centro de Oberhausen tenta disfarçar a miséria. Oberhausen fechou cinco das suas sete piscinas, a sala de concertos foi encerrada, a biblioteca móvel também, os empregos desaparecem, os jovens abandonam a região. “É o que acontece em todo o Oeste.”
O novo Leste, pobre e carenciado
De repente, o tema volta a estar em primeiro plano: a separação entre a Alemanha de Leste e a Alemanha de Oeste. Mas desta vez, é invertido 180 graus. Quem colocar a questão aqui, em Oberhausen, 22 anos após a queda do Muro, terá uma resposta inesperada: a Bacia do Ruhr, que outrora foi o berço do milagre económico do Oeste da Alemanha, tornou-se o novo Leste, pobre e carenciado.
Em plena campanha eleitoral na Renânia do Norte-Vestefália, a classe política contribuiu para esta manifestação de ira. Quatro presidentes de Câmaras Municipais sociais-democratas do Ruhr apoiaram a supressão do “Solidarpakt II”, o pacto de solidariedade instaurado há vinte anos pelo Governo, para que os alemães do Oeste contribuíssem financeiramente para ajudar os seus irmãos de Leste após a queda do Muro. Este pacto foi alargado até 2019.
Os presidentes das Câmaras parecem ter atingido um nervo sensível. Até Joachim Gauck, o novo Presidente e primeiro-ministro alemão de Leste a desempenhar a mais alta função do Estado, compreende a ira do Oeste.
O Ruhr continua a ter regiões ricas, mas em cidades como Duisburg e Dortmund, há locais parecidos, segundo Gauck, “com a RDA após a queda do Muro”. Há ruas cheias de buracos, casas inabitáveis.
Apelidada de “Grécia da Alemanha”, Oberhausen é a cidade mais endividada do país. Com uma dívida de cerca de dois mil milhões de euros distribuída por uma população de 211 mil habitantes, um total de 8 mil euros por pessoa.
Foi imposta à cidade uma política de austeridade rigorosa. Com 12%, o desemprego corresponde à média dos Länder da antiga Alemanha de Leste. Por outro lado, a cidade deu um contributo para o Leste no valor de 270 milhões de euros, tendo que se endividar para poder pagar este montante.
Gabriele Daum e o seu amigo sabem como se chegou a este ponto. A Bacia do Ruhr continua a ter dificuldades devido ao encerramento progressivo, desde os anos 1980, de diversas minas de carvão e de aço. A região não conseguiu orientar-se para uma nova economia moderna.
"O que tenho eu a ver com o que os meus antepassados fizeram?"
A antiga cidade de mineiros tenta mudar com a ajuda de projetos dispendiosos. Construiu, apressadamente, no exterior do centro: o Centro, um edifício industrial transformado em centro comercial de luxo; um casino dourado, o Sea Life Center, onde o polvo Paul apresentava os seus prognósticos lendários na taça do mundo de 2010.
No centro da cidade é possível constatar a dura realidade através dos seus inúmeros bairros operários, velhos e degradados. A taxa de desemprego é significativa: as lojas encerram umas atrás das outras e são suspensos milhares de empregos nos serviços públicos.
Christian Barth, oriundo de Oberhausen, tem 26 anos e é um dos últimos representantes da longa tradição do Ruhr. É mineiro numa mina de sal e estima que paga “entre 25 a 50 euros por mês” de contribuição para o Leste. Quer parar de contribuir. Uma vez que, segundo o que este afirma, o dinheiro é gasto em projetos de luxo, e “embora a situação seja crítica aqui, eles não nos ajudam, certo?”. Não se sente ligado ao Leste: “o que tenho eu a ver com o que os meus antepassados fizeram?”
O único sítio onde se ouve falar de “solidariedade recíproca” é num contentor situado no centro da cidade. O grupo artístico Geheimagentur criou um projeto idealista para encontrar soluções para os problemas de pobreza da cidade.
Estes distribuem “Kohle für alle” (dinheiro para todos): uma moeda fictícia com a qual os cidadãos podem fazer compras em cerca de quarenta lojas em troca de uma ideia “solidária”. Para os artistas, a ira do Oeste para com o Leste é uma expressão de “inveja” – atiçada pelas disputas eleitorais.
Para Hannelore, de 72 anos, que acaba de se inscrever no “Kohle für alle”, o pacto de solidariedade “não deve funcionar apenas no sentido Oeste-Leste”. Esta tem a certeza de uma coisa: “Agora os necessitados somos nós. Aqui vê-se buracos nas estradas em todo o lado, lá as ruas são todas novas, certo?”
Em algumas cidades do Leste alemão, a infraestrutura foi de facto restaurada com centenas de milhares de “fundos do Oeste”. Atualmente Dresden tem melhor aspeto do que Duisburg. Jena tem uma taxa de desemprego de 7,3%, claramente menos do que na Bacia do Ruhr. Mas em termos de poder económico, o Leste está muito atrás do Oeste: uma taxa de desemprego de 12% no Leste contra uma de 7% a nível nacional.